Wednesday, September 27, 2006

Hoje

Em Lisboa, sem tempo para ouvir as gaivotas.....

Monday, September 25, 2006

Cai a noite, no campo branco

Sunday, September 24, 2006

O milagre da cura

As vacas roubadas do lavrador

A galeria dos votos

A Senhora d' Aires


Os alentejanos são pouco dados a missas, com a excepção de quando nascem ou morrem. No meio ficam as visitas à Senhora d' Aires, no último fim de semana de Setembro. Talvez seja a maior romaria do Alentejo, no campo, a poucos quilómetros de Viana do Alentejo. Quando cheguei ao Alentejo, há vinte anos, impressionou-me esta festa muito tradicional, com muita gente, naquele tempo, a dormir ao relento sob o arvoredo de sobreiros, muitas carroças, bestas e cantares espontâneos pela noite fora, em tascos improvisados de mesas corridas e um tanto precárias. Hoje já não é tanto assim, mas em todo o caso é o paraíso para um fotógrafo retratista. Mas o principal, está na colecção exposta, dos votos dos romeiros ao longo dos últimos três séculos. Está ali exposta a história de gerações, nas suas aflições e angústias, desde o tempo das pinturas em tábua, patuscas e ingénuas, até ao advento da fotografia. Das enfermidades humanas ou dos animais, o roubo de vacas, o cair da garupa abaixo de uma mula, ou a ida à guerra, tudo são aflições de gente. É uma visita essencial para conheçer intimamente o Alentejo.

Thursday, September 21, 2006

Bom tempo

É consensual no Alentejo. Hoje foi um dia de bom tempo.
Choveu a cântaros.

Monday, September 18, 2006

O mundo ao contrário

O bloco pareçe viver a fazer o pino.
Hoje li que a sua solução para o desemprego, é aumentar o tempo de lazer dos trabalhadores para assim se criarem mais empregos. Era bonito ter três dias de descanso semanal, mas era se podesse ser, se o mundo não estivesse no ponto em que está. Se houvesse um governo que fizesse a vontade ao BE, os empresários diriam, que não são a Santa Casa e fariam a trouxa, transferiam as empresas para paragens mais convenientes aos fins que buscam e que sabemos quais são. Só por cá ficariam os" empresários-coitadinhos", sem dimensão económica para deslocalizar, esperando o dia em que abrissem falência e assim facultando aos trabalhadores, não três dias de descanso semanal, mas sim oito.

A escola do meu filho

O meu filho mais velho entrou na escola primária. A sensação é esquisita, ainda não estou bem habituado. O problema não é o crescimento dele, e por tabela, o meu. O problema é a impessoalidade, a frieza, a desumanidade do sistema de ensino. E deste governo, um grande empreiteiro de desumanidade.
A escola está num meio sub-urbano de provincia, não é muito grande, nem muito pequena, tem umas dezenas de alunos. Já é suficientemente grande para que os pais deixem os filhos no gradeamento da entrada, sem permissão de acesso ao interior. Como desobedeci, tive a possibilidade de ver o meu filho sentado na carteira da sua sala de aula, mas não sei aonde almoça, nem imagino como pássa o tempo do intervalo. A professora tem meia hora mensal estipulada para receber os pais, não sabemos quem ela é e o que pensa. A escóla, aonde o meu filho passa muito tempo da sua vida, é um território que me está vedádo, que vejo através das grades. É uma fábrica de ensino. Normalmente sujeito-o a uma rajáda de perguntas ácerca do quotidiano, do trabalho feito, dos deveres a fazer, do que a professora ensinou, do que almoçou, do que será ou não será, tudo porque estou á porta da vida dele. Talvez esteja agora a começar, esta história de ficar nas bordas da vida dos meus filhos. Mas isso é outro assunto, ainda que indigesto.
E agora entra a política, lá anda ela sempre a rondar. Que privilégio assassinado, aquele, dos pais aldeões que tinham escolas de dimensão reduzida, de dimensão humana, que eram extensões da família. Escolas, onde pais e avós tinham lugar, que eram do"povo" todo e eram o orgulho da aldeia que com elas intéragia.
Este governo ficará para a história, como aquele que derrubou administrativamente o que restava do portugal rural. As 1500 escolas encerradas são um dano irreparável ao interior de Portugal e às familias que por lá teimam.

Friday, September 15, 2006

Mais cardos

Thursday, September 14, 2006

O Verão já foi


Depois de um Agosto glorioso, o cardo, a que chamam cardo narciso, está a chegar ao fim. As primeiras chuvas aceleram-lhe o declínio. O Outono começa no seu ocaso e outras florações marcam o recomeço do trabalho do apicultor.
O verão entra na sombra.

Wednesday, September 13, 2006

O dia primeiro das águas

Vieram as primeiras águas, tépidas e mansas. Com os pingos mornos,, emergem da terra escaravelhos que se consomem numa aventura alada e fugaz, contra as paredes das casas e as luzes dos carros. É todos os anos o mesmo, sempre com o perfume da terra e os olhos perdidos na planície.
É este o perfume do dia primeiro .

Sunday, September 10, 2006

Lógica do pinhão

Nem de propósito, após o último post surgiu-me um dilema de ordem económica. Inadvertidamente, provei mel com pinhões e aquilo é delicioso. Resolvi começar a fazê-lo também.
Começei por ir orçar os preços e fui a um armazém grossista, aonde me deparei com uma escolha complicada. Tenho pinhões a 16 E, de origem chinesa, e pinhões a 30 E de origem portuguesa. È fácil entender, que a diferença de cotação, resulta da diferença do custo do factor trabalho, que na China não é tão bem pago e é certamente bem mais precário do que aqui.
Ali entendi que tinha em mãos a escolha real, sou eu que tenho o poder de exercer a pretensa escolha, que se diz que os consumidores exercem na economia de mercado. Mas não escolhem nada, quem escolhe sou eu e os outros, que produzem e vendem mel com pinhões, e todos escolhem o mais barato, para não ficarem em desvantagem nas prateleiras dos supermercados, face à concorrencia.
Mas eu não fiquei convencido ainda. Aquele barato que compro, significa mesmo precariedade como cá não existe, salários miseraveis, ausencia de capacidade reinvindicativa, desregulação, capitalismo puro, e é este o modelo que fixa os preços no mundo e que se impõe, porque vençe economicamente. É este o modelo que trabalha para os Belmiros, enfim, o seu mundo ideal. Por isso, comprar um produto feito desta maneira, é colocar mais um tijolo no edificio da exploração. Fálo-ia eu se não o soubesse.
Fazem-no tantos, que enchem as lojas da China ou que no supermarcado compram o mais barato, sem quererem saber de quanta politica há num frasco de qualquer coisa.

Se comprar os pinhões portugueses , não trabalho para a construção do edifício que nos faz recuar ao século XIX, mas terei o produto mais caro do mercado e muito poucos perceberão o que está em causa, ainda que eu inscreva este panfleto no rótulo. Seguramente não estarei no desfile da vitória final, mas vou comprar pinhões de Alcácer. E continuar a rosnar, quando vejo o Dr.Louçã em jogos florais , de solteiros e casados, e nunca, mas nunca, tendo uma palavra para aqueles que, por aqui, por serem empresários , também são precários, à merçê dos "negócios da China".

Tuesday, September 05, 2006

Os solteiros e casados

Há uma esquerda que se compraz em ver o mundo a preto e branco.
Não falo da pseudo-esquerda que pensa que nos governa, falo da outra, a que encena uma espécie de jogo de solteiros e casados entre o trabalhador bonzinho, mas precário , e o empresário safardana e explorador. Estamos em 2006, na era da globalização e este espectáculo redutor não vai ao cerne da questão, que é, o de uns e outros, serem agora precários. Todos nós!
Se há maus empresários também os há bons, se há bons trabalhadores também os há maus- se há!- e principalmente, uns e outros estão à rasca. Enquanto o dr Louçã continuar a encarar a actividade empresarial como uma actividade potencialmente delinquente não vamos lá. Continuaremos todos bem tramados, porque só quem percebe da globalização são os grandes poderes económicos a quem ela assenta como uma luva. E até agradecem que as coisas continuem assim, com desfiles pelo emprego, inócuos, porque não discutem o essencial.

Sunday, September 03, 2006

A hibernação

Hoje de manhã fui em visita rotineira aos apiários que ficaram na serra de Alcoutim.
Fui fazer o tratamento do timol, abri colmeias, olhei os cerros e reparei na natureza inerte. O mato está ressequido, espera pelas primeiras águas para sair da sua hibernação. As colmeias paradas, uma ou outra abelha sai para ir buscar água a algum chavanco, que eu nem sonho onde esteja. O verão é no mato, o mesmo que o inverno nas regiões nórdicas, o repouso vegetativo, a hibernação da natureza.

O pacifista condicional

Se for um pacifista, sou o pacifista condicional.
Há vinte anos fui objector de consciência ao serviço militar. Objectei a abjecção de não ter consciencia e o autoritarismo inerente à condição militar. Só poderia estar num quartel, se podesse bater, eventualmente, no coronel.
Fiz profissão de fé na liberdade, para nunca ser o soldado inglês que se suicidou, por não suportar matar inocentes no Iraque. Sou objector de consciencia porque não quero ser um cordeiro de sacrifício em tempo algum. Mas não foi pelo meu passado de activista anti-militarista que fui contra a invasão do Iraque ou que fico chocado com a aventura dos falcões israelitas nos tempos que correm. É apenas por uma questão de bom senso, de achar convictamente que essas tropelias degeneram noutros males igualmente inúteis, numa espiral de mal, sem fim á vista.
Mas o pacifismo acaba aqui, no ponto da dúvida, na visão dos teocratas iranianos, no arrepio que me provocam, no nó de estomago de já ter visto aquilo, noutra vida , talvez. O meu pacifismo fica-se por aqui, nas covas, quando penso que custe o que custar, aqueles individuos não podem ter armas atómicas. Não sei o que fazer, que bom é agora não ter poder, porque não o saberia exercer num tempo assim.
Não partilho nada a visão de uma certa esquerda, com a cartilha da moralidade no saco e a fingir que não é nada, a representar o mesmo papel demissionário que os países europeus tiveram nos anos trinta perante a corrida armamentista do Reich.
Volto ao começo, ser contra a guerra não me obriga a ser o cordeirinho pascal, não nasci para isso.