Lula presidente

Saúdo Lula, presidente de novo, já sem suscitar o entusiasmo da primeira vez, inédita porque quase inacreditável. Mas presidente do povo.

Apesar de todas as trapalhadas e corruptelas que fatalmente se pegam ao poder, ainda assim ele não defraudou a esperança. É inquestionável que a vida dos brasileiros desfavorecidos melhorou com Lula, e é com um misto de orgulho e de inveja que vejo o apoio verdadeiramente revolucionário que a agricultura familiar teve durante o mandato de Lula e que coloca o Brasil bem no primeiro mundo, em chocante contraste com o que por aqui se passa e que faz de nós, um país do último dos mundos. Isto são marcas evidentes de uma governação de esquerda. Daí a minha invejasinha. E o meu orgulho.

Este Outubro

Atravesso o Caldeirão. A tarde faz baixar as nuvens até entrar nelas.
Entro também na minha infãncia e nas viagens intermináveis, a caminho do Algarve com os meus pais e no tédio que representava a paisagem, num tempo que nunca mais passava. Vivo agora um tempo que encurtou a estrada e pintou os medronhos mais vermelhos. Nas horas felizes, saboreio os salpicos das ramagens , contento-me da tarde breve. O nevoeiro, a quase chuva, são hoje a minha pele etérea.

O principe

Hoje o dia está fusco e lembro-me do meu pai nos dias cinzentos.
Ele detestava dias de chuva, neles vinha à tona o seu lado sombrio, a amargura dos dias .
A ausencia do sol, era a ausencia da vontade de fosse o que fosse, e ele sentava-se a contemplar um ponto incerto nas paredes da vida.
Mas depois chegáva o sol a iluminar-lhe o rosto, a barba dourada, e ele reemergia das suas catacumbas, voltava à fala, os seus grandes olhos azuis marinhos cintilavam e voltava a ser o principe romântico, que ainda é hoje em mim.

Promessas de Outono

Ontem adormeci ansioso. Não havia maneira de chover, as lavouras estão paradas, a terra está seca. A memória da seca está viva ainda.
Hoje pinga sem convicção, será promessa ou miragem?

Ditosa pátria

Os portugueses tomam-se a sério. Os autarcas portugueses foram reunir com os congéneres espanhois. Encontraram-se na linha de fronteira dos dois paises, cumprimentaram-se e passaram às apresentações. Os de cá anunciaram-se, doutor fulano, engenheiro beltrano e doutor..... etc. O alcalde espanhol anunciou:
-Yo soy Pepe, este es Juan , el otro Paco!
E assim se apresentam os países....

Constrangimentos

O comércio não é a minha vocação.
Estou mais à vontade no mato, na produção, a ver crescer.
A venda é uma actividade cheia de manhas, de malabarismos que não domino. Precisa de paciencia e de muita ingestão de sapos vivos e mais bicharada. Hoje, os donos de uma loja coiso e tal, que pretendem ser de referência no país, estavam indignados por dividirem a venda do meu produto com um concorrente das proximidades. Que não podia ser, o outro era um "boteco" e eles, claro, o melhor do alentejo e arredores. A liberdade não passa também por aqui.

Passarada

Andam por aí uns passarões, numa cégarréga sem fim, a proclamar a falência do estado providencia para assim verem o que sobra para eles abocanharem. Reuniram em concílio no convento do Beato, local messiânico e de bons auspicios, e decretaram a quem os quiz ouvir, o despedimento de duzentos mil funcionários publicos, com preferencia pela áreas da educação e da saude, as que prometem melhores negócios na partilha dos despojos.

Pelos mesmos dias, no jardim infantil da rede publica que o meu filho mais novo frequenta, uma educadora de infância encarrega-se, mal, de vinte e duas crianças, sózinha, porque não há pessoal auxiliar.