Thursday, May 31, 2007

Camaradas

Uma tarde pacata na serra.
Só oiço zumbidos, um soar fundo e surdo. Nisto visitas, uma carrinha com embuçados que andam ao mesmo, apicultores, enfim colegas.
Já calajado nesta história, pressinto chatices.- O que é que estes querem? Falam os instintos. Eles saiem da carrinha mudos, eu se andasse armado levaria a mão discretamente ao bolso. Boas tardes atiro eu. Eles respondem, talvez não corra mal, penso eu. Mas eles são baixotes, os tais que são velhacos ou dançarinos, eu a intuir o resto, e a tirar-lhes as medidas.
Começa a conversa, de palavras medidas à régua.Vinham anunciar que o dono do terreno aonde está o meu apiário, quer lavrar e portanto, as colmeias fora dali.Estranho de mais, o dono conheçe-me bem, sabe onde me encontrar, é descomplicado, damo-nos óptimamente. Não cola. A seguir o óbvio. Os outros tem colmeias perto,logo vieram cumprir a sua missão elementar de chatear. A conversa não passou disto, não chegou a ser conflituosa, ficou pela demonstração da potencia do veneno.
São raros os camaradas, mas eles existem.Com eles falamos sem espinhas, o encontro é festivo, e as histórias, as nossas, do nosso trabalho, são cerejas na boca. Ainda existe o Gabriel de Sousa em Évora, que me ensinou quase tudo, o Brinca em Moura, ou o Teixeira que anda lá por Portel. Eles sabem bem o quanto desgasta esta vida de apicultor, sabem que não há energia util na mesquinhez de adro de igreja que nos rodeia. Sabem que muito nos falta saber e do valor infinito da partilha. São eles os camaradas.