Friday, July 27, 2007

Olhão, Vila da Restauração

O Zeca Afonso cantou a vila da Restauração, cantou a terra da maresia e da liberdade que hoje respiro à beira da ria. Foi sempre terra de marítimos, embarcadiços e rufias.Durante séculos, os reis não permitiram outras construções que não palheiros. A emancipação dos pescadores de Olhão chegou com as invasões napoleónicas. A corte fugiu para o Brasil, o país ficou à deriva entregue a Junot. Foi em Olhão que se iniciou a revolta popular que expulsou a tropa francesa.E foram olhanenses que se lançaram à aventura, num barco mínimo, o"Bom Sucesso", a caminho do Brasil, orientando-se pelas estrelas, a levar ao principe Dom João a boa nova da libertação do país. Lá chegaram e saudaram-no:
Mano Rei,estamos soltos!
A partir daí nasceu Olhão, a vila da restauração, que José Afonso cantou.

E ao anoitecer

Não trago leituras de férias, ler precisa de silêncio e há muito ruído na minha vida. Mas gosto de bebericar poesia, aqui e ali em degustações fugazes. Lembro-me de Al Berto,da sua presença física,o que escrevia fala em mim em surdina.Foi-se, há já dez anos.


E ao anoitecer

e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silencio
e a dificil arte da melancolia

Thursday, July 26, 2007

Uma esplanada para o mar

Trouxe as angústias a banhos.
Estou a vender frascos de mel á beira ria, em Olhão. A maresia vivifica. A quantidade de gente bem parecida tambem. Aqui e ali, há sempre uma mulher que apetece ouvir falar, com quem se pode ter uma fantasia qualquer.
Também é disto que trata estar vivo.

Wednesday, July 25, 2007

Atrofio

Estou no meu verão esquisito. Carrego uma raiva funda, bem localizada mas sem destino que eu conheça.
O calor oprime mas não é só, até tem sido benigno. Trago um paladar amargo na boca e nos instantes da consciência. Sensação de atrofio que começa nos teres e haveres, mas logo salta para as emoções e para o monólogo quotidiano com a vida. Como se estivesse a caminho de qualquer coisa de que não tenho saudades por antecipação.

Thursday, July 19, 2007

Ser português 4

A minha" mais que tudo" em Paris, entrando na "boulangerie" para comprar uma "baguete" e,espanto, a madame atrás do balcão a agarrar com a mãozinha nua o pão. Não querendo fazer a apologia desta desconformidade-não é preciso exageros- aonde é que nós em Portugal pensariamos sequer em manipular um alimento sem luva, saco ou tenaz? Por aqui se entende como em França está ausente a demencia que por aqui vai.Assim podemos entender como estamos da maneira que estamos.

Ser português 3

O melzinho dito "caseiro" tem por cá os dias contados.Segundo as novas normas que pretendem "pôr na ordem"- esta expressão sempre me provocou asco- o sector do mel, ilegalizam tudo quanto seja vendido por alguém que não tenha um licenciamento de tipo industrial, a exemplo do que sucede com as queijarias ou as salsicharias. Sucede que o mel é um produto diferente, muito menos perigoso em termos de segurança alimentar pois não é terreno propício ao surgimento de bactérias. E não é produto de grande consumo, donde grandes investimentos a nível de instalações, são de muito dificil retorno.Os nossos amigos espanhoís, generosamente subsidiados pelas autonomias- lá, a regionalização foi uma peça base do desenvolvimento- podem produzir e vender, sem estes codilhos. No mel, como em tudo o resto neste país, se percebe porque estamos como estamos.

Ser português 2

Ele é um rapaz desenrascado, como por ali não há outro. Grande trabalhador, dos tais que todos querem. Faz tudo! Tosquia ovelhas, colhe mel, apanha fruta em França, conforme o trabalho aparece e aonde surge. Há dois anos foi vender bolos para a praia,contratado por um patrão de uma aldeia proxima. O trabalho duro de andar dias inteiros, carregado pelas areias do Algarve teve fraca pága. No ano seguinte pensou, isto tambem eu sei fazer, e foi por sua conta e risco. Contratou os bolos com um pasteleiro, conseguiu custosamente licença de vendedor ambulante e fez pela vida. Este ano, percebeu que há muito menos chatices -não há- indo para o outro lado da fronteira fazer aquilo que os espanhois ainda se não lembraram de fazer. Tudo isto sem a cartilha dos HACCP, bastou ao chefe da capitania do outro lado, ver que o produto tinha bom aspecto, trazia factura e o carro estava asseado.
Este exemplo, com paralelo em todos os sectores de actividade em Portugal, explica porque estamos da maneira que estamos.

Ser português 1

José Saramago prolifera em declarações inuteis.Esta semana falou da inevitabilidade de Portugal se integrar em Espanha. Duvido de tal hipótese, criaram-se, ao fim de nove séculos de história, duas realidades nacionais diversas na Peninsula ibérica. Não é facil apagar tanto tempo.Julgo que tenha sido antes, por parte de Saramago, a manifestação de um desejo. Ser português é das realidades mais cansativas que podem existir.Este, tornou-se o país das engenheirices, dos doutoures da mula russa, fechados nos seus gabinetes, entretidos a pensar como deverão formatar a vida dos outros. Veja-se a toda poderosa ASAE que em nome da obecessão hipocondriaca, vai fechar suiniculturas por falta de condições higiénicas! Em mais nenhum lugar do mundo, o estado através dos seus serviços, faz os possiveis e os impossiveis para destruir os produtores nacionais.