Monday, June 30, 2008

Lições de Simão Bravo

- Pai! Sabes o que acontece quando eu caio?
- Sim...Diz!
- Eu levanto-me.

Sunday, June 29, 2008

Uma blague

A proposta do PCP de alterações às leis laborais, reduzindo a semana de trabalho para as 35 horas, só pode ser encarada como uma blague de gosto duvidoso, ou como um regateio de peixeiras, de valor equiparável às do governo, quando faz propostas intoleraveis, para depois se ficar pelas intoleraveizinhas, vestidas em roupa de benesse.
No estado actual do mundo, falar em 35 horas semanais é uma atoarda estéril, que nos desvia de tentar perceber como chegámos à situação de a Comissão Europeia aprovar a semana das 65 horas.
Que borboletas esvoaçam pelas cabeçinhas dos dirigentes comunistas?

Feira ao fim

Está na hora de fazer parar o verão emocional até proximas nupcias.
As noites quentes da feira de São João e São Pedro, com muita bebida e pouco discernimento, estão no fim e há que lhe dar graças. Com a festa no auge, o bom governo no fundo, o trabalho, a vida contraída, seguem dentro de momentos.

Friday, June 27, 2008

Insónia

Hoje estou insone, arrepiado de sensações e vontades que me não obedecem.
Seria tudo tão mais simples, se fosse apenas sonhar, e tu estares lá, sem as tuas duvidas, com as palavras certas, mãos entre mãos, no meu mundo perfeito, e tu acabada de entrar lá.
Tudo, tal como eu estou aqui, pintalgado de emoções e muito, muito real.

Biologias amadoras

Nas noites mornas entretenho-me a ver as osgas à caça nas paredes. Mosquito aqui, borboleta ali, mordisca daqui e dalém, vão enchendo o papo e espantando as vizinhas do seu metro quadrado de parede.
Há quem compre isto em barro, para pôr na parede.

Thursday, June 26, 2008

A felicidade de Simão Bravo

Para o meu filho Simão futurei o doutoramento em felicidade.
É musica para os meus ouvidos ouvi-lo gargalhar. Risos desabalados, cheios, sonoros, como se estivesse escancaradamente feliz.
Certo dia, a mãe incitou-o ir para o banho, a fim "de ser um menino feliz", ao que ele respondeu:
-Eu já sou um menino feliz!
E lá foi todo contente.

Wednesday, June 25, 2008

Os garganeros

A garganeirice do punhado de individuos que sugam os recursos do mundo inteiro, em prejuizo da vida dos demais, especulando com bens de primeira necessidade tais como os alimentares e o petroleo, é ilimitada.
Diziam discretamente- porque será?- os jornais de ontem , que a especulação com o petróleo já representa 70% do mercado americano, perantea passividade do mundo inteiro e dos que nos querem fazer passar por papalvos e até conseguem.
A garganeirice é vicio, são como os porcos, quanto mais comem mais querem comer, até se tornarem os porcalhões disformes e sem rosto, que é o que os salva de terem o mesmo destino dos restantes da sua espécie.
Não terem cara é o seu seguro de vida.

Quarenta graus

Voltei hoje á dureza de ser apicultor. Andar no campo a crestar ao calor.
Andei a penar até as onze da manhã, enfarpelado em roupa, a calma a chegar, os pés já pesavam toneladas e o coração em alvoroço, debaixo de um sol que parecia maldição. Por momentos, curtos instantes, cobiçei a vida do bancário, entre as suas quatro paredes climatizadas, a suspirar pelo "bom tempo" que está lá fora e que ele não pode usufruir.
Ainda assim, agradeço à vida não ter coleira nem dono.

Monday, June 23, 2008

Noites lunares

Estas noites lunares são um tumulto da minha alma
noites da minha fantasia
em que pétala por pétala
palavra por palavra
busco o riso eterno dos teus olhos
noites de lua lunar trazem outras luas
dias plenos de ti

Saturday, June 21, 2008

O senhor Gabriel

Já há muito tempo que deixámos cair o senhor. Agora és o Gabriel e boa parte do que sou hoje como apicultor a ti o devo.
Quando aterrei no Alentejo, vindo da grande cidade, era apenas um projecto de pastor de abelhas, um diletante urbano em busca de uma suposta vida fácil.Tive a sorte de haver por aqui um homem como tu, com o gosto de transmitir saber e com inteligencia para o ter amealhado durante a vida, que algo me acrescentasse à pouca prática e às leituras em que vinha versado. Foi uma espécie de estágio iniciatico.
Nasceste em Mora e depressa percebeste que ali só haveria para o teu futuro, os pés atascados nas lavras do arroz ou o ácido esverdinhado do tomate a comer-te a pele. Rumaste a Évora e fizeste-te homem como tipógrafo. Certo dia, alguem te fez chegar a cisma das abelhas.
Viste como é lindo apanhar os enxames primaveris, gastar horas infinitas a olhar o vai vem das abelhas na sua lida, perderes-te no campo e no trabalho até ao cantar das primeiras corujas, acompanhar o ir e vir das estações que se sucedem numa cadência só igual na aparência. Depois nunca mais parastes, não te limitaste à rapina da cresta, foste sempre um observador atento da técnica de produzir mel e um pensador daquilo que observavas.
Eu cheguei verdinho, embriagado de ilusões e disperso nos meus interesses, em ti tive um bom conselheiro, um pronto socorro para todas as aselhices e dificuldades de engenho em que sou pródigo.
Confirmei contigo, vendo como acarinhavas uma cobra num dos teus apiários, que um apicultor digno é um óbvio ecologista e que a territorialidade tão tipica do ser português, é abominavel e só aos cães se perdoa.
Hoje estás velhote, mas ainda cá andas numa apicultura ronçeira, para onde a idade a todos nos remete, não será por dinheiro que cá andas, porque não há euros que paguem a coluna sempre esgadanhada e a indiferença geral por esta inexistencia de vida.
É por isto, e por causa de gente como tu, e se não pensarmos no resto, que isto ainda é uma vida bonita.

Friday, June 20, 2008

As sandalias dos romanos


Não é à toa que se chama José Mário.

Acho que não há nomes por acaso, frequentemente o nome vem-nos agarrado à identidade, à pele, e assim fica para sempre. Não conheço muitos Zés Mários para além do meu. Conheço o Branco, o Mourinho, o do Tamajoso, este com muito que se lhe diga também. Todos sairam maraus, dificeis, mas compensadores de energia, garra, carácter.

Hoje foi o ultimo dia do ano lectivo. O meu José Mário estava em pulgas. O caso não era para menos, era o ultimo e levava uma quadra aprendida para recitar. Foi lindo de se ver no alto do palanque, com um microfone na frente, cavalgou todo o povo da assistencia, sem vacilar. E o mais extraordinario nele, com oito anos, as sandálias.

Umas sandálias achineladas de pele que comprei na feira de artesanato de Alcoutim, um par para mim, outro para ele. Sucede que ele é a unica criança daquela escola que tal coisa usa, muitos lhe dizem ser isso coisa de meninas, mas sabe que já os romanos as usavam e basta-lhe gostar delas e lhe saber bem, para não haver ditos nem mexericos que lhe atrapalhem o caminho. Eis o que é um Zé Mário, a caminho de ser homem de pelo na venta e nariz empinado.

Thursday, June 19, 2008

Arde

Trago o corpo ardente
esbraseado de sol e suão
e tambem ardor
querença do teu aroma incerto de cereja verde
tenho a boca a arder ao luar de junho
neste fogo para apagar ao cair da névoa
arde
enquanto espera pela tua chama indecisa
ou torrente de fria água

Wednesday, June 18, 2008

Picadela que ferve

Arre Poorrraaa! Não é que já me picou a puta da abelha dum cabrão!?!!!
A dor projectou o cântico matinal, toda a passarada do barranco se calou, toda a bicheza daqueles ermos se fez em sentido.
E eu a estreluzir.

Tuesday, June 17, 2008

Um chá, pelas cinco da madrugada

Esta noite vieste visitar-me, como o não fazias há muito tempo. Enquanto dormia voltei a ser filho.
Entraste sorrateiro, tal como fazias para me mostrar uns versos novos que tinhas congeminado na véspera, desta vez não bateste de mansinho na porta do meu quarto, entraste e sugeriste tomar um chá de cidreira, às dez para as cinco da madrugada. Desta vez não te mostrei os netos, mas desde já te digo que o Zé continua um galo doido, mas já gosta de brincar com palavras, tal qual como nós. O Simão és tu por uma pena.
Estás na mesma, pareces repousado até, lá aonde estás deves fumar umas cigarradas boas, sem ser às escondidas da mãe e dos médicos. Continuam iguais os teus olhos de azul marinho donde sempre vieram as palavras certas para me apaziguar as inquietações de todas as idades. Hoje estou outro, relativisado e com os teus assomos de paciência, mais aparente do que real. Agora sou um filho com rugas marcadas, e tu, pai, sem idade nem velhice, mas sempre com as mãos mais macias do mundo. Às vezes deixo crescer a barba a ver se me pareço contigo, mas não resulta, eu sou mouro e tu celta, nunca consigo ficar com esse teu ar de principe da Baviera.
Como de costume és o ouvinte atento, e mais uma vez, eu esqueço-me de te perguntar como estás, o que tens feito, aonde moras, se és finalmente feliz. Deixo-me estar falando das minhas encruzilhadas, da eterna ausencia de certezas sobre o nosso destino, matéria em que sempre nos entendemos muito bem, ainda que não o soubesses. A propósito, agora reparo, trazes aí o "Em Nome da Terra" do Virgílio Ferreira, o tal, que eu para te picar, dizia ser literatura senil, mas que ia sorvendo às tuas escondidas. Uma coisa me ensinaste, de grande utilidade póstuma, a memória é a unica eternidade que consigo reconhecer.
Não sei se passou muito ou pouco tempo, ainda não clareava quando o teu neto Simão chegou à minha cama para aí fazer ninho, e tu seguiste à tua vida.
Mas eu sei que qualquer dia, por aqui ou por além temos outra cházada.

Buzinão

Buzinar até buzinava, nem que fosse contra o altíssimo lá no céu, que é um velho amodorrado a dormitar nas horas da eternidade.
Mas aqui, só as lebres me assistem.

Monday, June 16, 2008

Meus lugares

Quando falas com devoção, nesses instantes em que te excedes de sonho, eu vou beber-te aos olhos as palavras. Gostei de as ouvir e te imaginar nos teus lugares, portos de abrigo.
Alegrete, as cascatas de São Julião. Tudo isso são santuários aonde não ouso penetrar, senão levado pela tua mão.
Os meus lugares não serão assim frescos e frondosos. Os meus matos são duros, crescem numa aridez de minério, os horizontes largos , flagelados pela loucura do estio.
Lá, no meu alentejo extremo, a natureza passa o ano a dormir, até explodir na primavera mais violenta que se possa imaginar, em que todo o viço se consome em meia duzia de semanas de apoteose total, até chegar o tempo de resistir até ao proximo excesso. Não há cascatas, água é contada ao pingo, e só ao raiar do dia a natureza mostra que existe. Depois, o astro sobe no horizonte e resta-nos a cal, o gaspacho, a pele tisnada, a sombra dos beirados com o azul inclemente a cegar os olhos. A sesta, silencio que convida a sonhar...
Mas as noites de verão são a redenção. Nelas, passeia Eros sem se dar por ele, nas noites de rouxinóis e corpos nus.
Ainda assim tenho para a troca...

Sunday, June 15, 2008

Um jardim cheio de árvores de fruto

A crise total actual, inspira-me a recordação do meu amigo Vicente, actualmente algures em parte incerta. Para ele uma reforma, era um quintal cheio de árvores de fruto.
Este homem era poesia em movimento e o tempo poderá encarregar-se, ou já estará, de lhe dar alguma razão.
Nasceu em berço muito modesto, e logo encarreirou pelo primeiro caminho que lhe apresentaram, embarcou nos barcos, na casa das máquinas. Lá andou muitos anos e acedeu a uma vida económicamente constante. Mas algo lhe faltava. Ainda que pouco escolarisado, lá começou a ler umas coisas que o abanaram da sua modorra.
Tornou-se vegetariano, não direi budista porque pouco mais do que animista seria, largou o ordenado de fogueiro nos petroleiros, e andou para terra. Lá chegado, firmou os pés num moinho de vento lá para os lados de Porto Covo, na Cabeça da Cabra, aonde as leituras o conduziram ao fabrico de um pão integralíssimo, como o faziam "os homens antigos", que ele vendia a uns camónes na praia da ilha do pessegueiro, num tempo em que lá só havia mesmo aves raras. Abençoados tempos sem ASAES e onde campeava a aventura e a poesia feita vida.
Pois o nosso amigo que era a encarnação mais fiel que já vi do palhaço pobre, trajava umas belíssimas camisas rusticas,umas calças largueironas e uns sapatos cambados que reciclava do lixo, e mais não tinha do que tostões e dívidas que ele ia pagando aprazadamente com outras , era um vegetariano consciente e consequente, proclamava a conveniência de andarmos nus, dormir sob as estrelas e comer, enfim, muita fruta.
Muito mais haveria para contar, mas o epílogo conhecido é digno de uma cinderela new age. Certo dia irrompeu pelos céus e terras do Alentejo, uma abastada herdeira loura, igualmente amante do desfrute das coisas boas da criação, e arrebatou o coração e a vida deste poeta, no achamento do paraíso terrial lá pelos brasis, num local que existe aonde se vive como Adão e Eva no jardim do éden e, importante, à beira mar.
Ah! Não se esqueçam! Uma reforma pode bem começar por ser um jardim cheio de árvores de fruto..

Saturday, June 14, 2008

Nem sol na eira nem chuva no nabal

Com a aprovação da semana das 65 horas pela Comissão Europeia, aconteceu o que já há muito tempo eu antevia, a derrota do modelo de organização social europeu perante a passividade de todos.
Sempre achei incongruente a postura das esquerdas, reinvindicativas da defesa do poder de compra dos cidadãos e da sua protecção social, desligada de uma postura proteccionista- há palavras que pareçem estar a arder no léxico politico- não é possivel defender o comércio livre e os direitos dos trabalhadores ao mesmo tempo.
Não há sol na eira e chuva no nabal.
Aí chegou o troco, a Europa das grandes empresas perde votações, como ontem na Irlanda, mas não se esquece de velar pelos interesses de quem realmente risca alguma coisa.
A esquerda teria feito um bom trabalho se o que estivesse em discussão fosse, não a semana das 65 horas, mas a taxação severa do comércio com os países que permitem semanas de trabalho com 65 horas.

Friday, June 13, 2008

A felicidade, essa maluca...

Uma coisa faz de mim uma criatura tendencialmente feliz: com coisa pouca, a auto-estima volta sempre ao seu lugar...

À espera que chova

Os camionistas lá desmobilizaram a troco de dez reis de mel coado. De qualquer modo, a solução não passa por atirar dinheiro para cima dos problemas, ou baixar impostos, que passada uma semana já estarão no bolso das petroliferas.
Temos ministros preocupados, estimo sabê-lo, mas as preocupações não enchem a barriga de ninguém, o que temos é um governo à espera que chova, em consonância com um presidente que acha que é o mercado!
Antes de ser uma questão economica, estamos perante uma questão politica fundamental, e esta não é uma questão ideológica, é antes uma questão de sobrevivencia.
O unico que ouvi capaz de pôr o dedo na ferida, foi Manuel Alegre, a colocar de forma implicita a hipotese de renacionalisar este sector estratégico.
Quis assim dizer, que afinal é a politica, estupido!

Thursday, June 12, 2008

Talvez viver

Tenho lido amiúde uns simpáticos sonhadores, a propósito da crise civilizacional actual , apresentarem o argumento de que esta é uma opurtunidade aurea para mudar-mos de vida.
Acho óptimo mudar de vida, estou pronto a subscrever. Podiamos ser mais vegetarianos e mais sobrava para os famintos nas áfricas, os urbanos podiam andar a butes ou então descobrir viaturas que não gastassem petróleo, os rurais pedalavam nas pedaleiras, os transportadores seriam carroceiros e até, imagine-se, teriamos mais tempo para a vida, não fora o caso de o capitalismo triunfante ser corrosivo para o tempo ludico.
Seria um mundo bonito!
Mas tem um mas. É que caso a humanidade estivesse disposta a chatices destas isto demoraria uns anos a implementar e no entretanto, seria bom talvez viver....

Wednesday, June 11, 2008

Hotel mil estrelas

Trago impressas na pele estas noites de Junho. Cheira a pastos secos, brandos,
noites constelações carnais.
Vezes sem conta ofereci o corpo às estrelas no breu do montado
Morrerei uma e outra vez na tua sombra difusa
no pasto brando

Tuesday, June 10, 2008

presidente raçudo

Ofício ingrato, esse de homem publico que não se pode recrear com as palavras como nós, gente comum, o fazemos. E é no detalhe das palavras mal escolhidas, que entendemos os seus mundos.
Essa do dia da raça foi em 1973, senhor presidente.

Hoje...

O meu coração é nómada...

Thursday, June 05, 2008

leve,leve..

Hoje saiu-me um peso de cima. Corri os cerros dourados donde escorreu uma primavera de mel, e tudo está, todavia, no seu sitio. Hoje não ouvi rádio, não li jornais, nem ouvi energúmeneos engravatados a proferirem económicas sentenças. Hoje o dia foi das perdizes e dos seus perdigotos, do grito rosa dos loendros no barranco, e até um sorriso inconsequente me levou ao céu.

Wednesday, June 04, 2008

A minha frase recorrente por estes dias

A festa acabou!

Monday, June 02, 2008

Bom povo português

De uma vez por todas, a nação valente e imortal deixou cair as calças.
A julgar pelos pescadores que furam a greve, a ver se aproveitam a ocasião para fazerem tostão, pelos automobilistas que se abstêm de boicotar as suas próprias passeatas, somos definitivamente um país rico e estamos prósperos.
Folgo sabê-lo!