Saturday, February 04, 2006

António Gancho


Soube-o à dias, mas muito fora do tempo.
Morreu há já umas semanas atrás, tão incógnito quanto viveu, tão só quanto sempre o foi, sem nenhuma nota de rodapé de jornal. Mas parece que morreu a rir.
Resumindo, chamava-se António Gancho, nascido em Évora há sessenta e cinco anos, passou a maior parte da vida internado em hospitais psiquiátricos e foi um dos maiores poetas do século passado em Portugal.
Escrevia coisas assim:

Tu és mortal

Tu és mortal meu filho
isto que um dia a morte te virá buscar
e tu não mais serás que um grão de milho
para a morte debicar

Tu és mortal anjo
tu és mortal meu amor
isto que um dia a morte virá de banjo
insinuar-se-te senhor

É-se mortal meu deus
tu és mortal meu deus
isto que um dia a morte há-de descer
ao comprimento dos céus


António Gancho

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