O susto

A minha avó, na sua infinita paciência, sabia contar histórias.Contava uma fábula da familia com quase duzentos anos, a história do susto do tio Benjamim Cupertino. Advogado de aldeia, nos tempos da escuridão nocturna, trabalhava até tarde pelo serão afora. Iluminava-se com velas, enquanto escrevinhava e lia no seu escritorio. A familia dormia, o silencio era total, talvez grilos ou um lúgubre mocho a piar, e era tudo.
Uma certa noite, ouviu-se um ruido de porta mal untada, passos vagarosos, que sobressalto! Nisto, um vulto assoma-se, estava vestido de branco, o olhar esgaseado, era o tonto da aldeia, um qualquer demente. Num repente, abriu os braços, descobriu-se, como chegou ao mundo debaixo dos lençóis, e proclamou:
-Eu sou Nossa Senhora!

Este "nonsense" fez sucesso na minha infancia e, continua a fazer parte da infancia dos que cá estão e dos que virão.