A casa crua
Esta noite voltei ali, no mais recorrente dos meus sonhos. Não percebo estes encontros com um lugar aonde não fui particularmente feliz nem infeliz.
O sítio é uma casa na serra de Grândola, a boavista assim se chama, num alto batido do vento, com o mar à vista, a Arrábida visivel em dias de atmosfera lavada e rodeada de uma floresta de sobreiros, uma floresta mágica habitada por corujas e matos de rosmaninho e vivida de boas presenças.
Aluguei-a ao Estragildo, um homem com perfil de lua minguante, que ainda calcorreava as veredas da serra, de carroça e macho. Foi a casa mais zen da minha vida, de tão pouca coisa que lá me acompanhou a mascarar o vazio. Era de taipa , não havia luz e a água penava-se com ela desde o poço.
Fui lá parar a sarar os acidentes do coração, e o silêncio, as sestas em chão de estevas, o zunir de fundo dos insectos, a maresia vinda com a nortada, o tempo lento, eram virtudes terapeuticas do lugar.
Agora entro lá como voyeur acidental, entrando num santuário que já não é o meu, em passos indecisos, como se estivesse prestes a ser surpreendido neste delito indecoroso de dar de caras com o passado. Mas ali só há paredes nuas e não aparece ninguém, nem sequer um gato com quem partilhar aquele tempo de monólogos.
O sítio é uma casa na serra de Grândola, a boavista assim se chama, num alto batido do vento, com o mar à vista, a Arrábida visivel em dias de atmosfera lavada e rodeada de uma floresta de sobreiros, uma floresta mágica habitada por corujas e matos de rosmaninho e vivida de boas presenças.
Aluguei-a ao Estragildo, um homem com perfil de lua minguante, que ainda calcorreava as veredas da serra, de carroça e macho. Foi a casa mais zen da minha vida, de tão pouca coisa que lá me acompanhou a mascarar o vazio. Era de taipa , não havia luz e a água penava-se com ela desde o poço.
Fui lá parar a sarar os acidentes do coração, e o silêncio, as sestas em chão de estevas, o zunir de fundo dos insectos, a maresia vinda com a nortada, o tempo lento, eram virtudes terapeuticas do lugar.
Agora entro lá como voyeur acidental, entrando num santuário que já não é o meu, em passos indecisos, como se estivesse prestes a ser surpreendido neste delito indecoroso de dar de caras com o passado. Mas ali só há paredes nuas e não aparece ninguém, nem sequer um gato com quem partilhar aquele tempo de monólogos.
3 Comments:
Há coisas assim, que ficam entranhadas em nós para sempre.
Dizem que em sonhos, a casa representa a alma. O que busca a tua?
Talvez busque encerrar assuntos mal resolvidos....
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