O pinhal alentejano
A floresta pode não ser uma virtude e os terrenos ditos incultos podem ser uma riqueza não negligenciável. Certo é que escrevo em proveito próprio, mas o interesse colectivo é feito de muitos interesses individuais. Senão vejamos: no interior do Alentejo e do Algarve, em Mértola e Alcoutim, o estado tem enterrado fortunas, a subsidiar a plantação de pinhais mansos, em solos esqueléticos, num clima sequíssimo. Naquela aridez , está a nascer o pinhal do interior alentejano. Não produz um pinhão que seja, não produz madeira que preste, apenas lenha reles e caruma boa para semear inçêndios no estio alentejano. Para isso sacrificaram-se os matagais, aonde se produzia o mel de rosmaninho, sem favor um dos melhores do mundo. Mel esse que tem uma Denominação de Origem Protegida, agora desprotegida pela falta de pastagem para se produzir esse mel de rara qualidade. Os matos produzem ainda lenha, essências, ervas aromáticas e medicinais, e sustentam uma economia de recolecção, também agonisante, dos cogumelos, dos espargos bravos, das túberas, da aguardente de medronho, dos frutos silvestres. É ainda o mato compatível com a caça e o pastoreio extensivo.
É tudo isto que se perde, a troco de coisa nenhuma, mas todavia, subsidiada.
Ainda é tempo de reparar o que se estragou. Se houve dinheiro e muito, para este acidente, é preciso que o haja para reimplantar matos de qualidade, onde os houve e deixou de haver; plantar alecrim, rosmaninho, medronheiro. Ordenar a desmatação, estabelecer regras que compatibilizem os vários interesses presentes. Cuidar de tornar compatível a presença do mato com a prevenção dos inçêndios, o que até não é difícil, afinal, é menos combustível o mato que o pinhal.
1 Comments:
Ora tens tu muita razão, rios de dinheiro enterrados em projectos de plantações de árvores que pouco ou quase nada têm a ver com o que deve ser uma floresta, mas que têm muito a ver com esta treta nacional dos interesses, da ausência de associações fortes. E o resultado é esta desertificação humana, esta tristeza de vermos uma paisagem desolada, toda igual, que, como dizia um agricultor que ouvi num colóquio, em vez de produzir pastagens para o gado acabará por ser pasto das chamas.
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