Tuesday, March 14, 2006

A coutada

Não sou caçador, nem tão pouco apreciador, portanto não tenho grande sensibilidade para o assunto. Mas tenho sensibilidade para a justiça ou a dignidade do ser humano, é isso que me interessa neste caso. É também na caça que nos podemos aperceber da imensa desigualdade que vai neste país. Tenho respeito por aqueles caçadores, em vias de extinção, para quem um coelhito ou uma perdiz era um bom complemento da depauperada economia doméstica. Não tenho respeito algum por esses matadores , que usufruem da caça sem dela terem qualquer necessidade, pagando por um dia de caça o que muitos reformados deste país não têm num mês.
Não tenho saudades do tempo em que uma turba multa armada, devassava tudo em nome do prazer de caçar, não respeitando nenhuma propriedade ou pessoa em nome da liberdade,
sem qualquer ordenamento ou disciplina
Nos governos de Cavaco, em nome do ordenamento cinegético, tendo subjacente a matriz ideológica da direita que de tudo faz um negócio , privatizou-se esta actividade.
Passaram estes anos todos, foram, partiram e vieram, governos ditos de esquerda, e nada se alterou. Quem eventualmente poderia precisar da caça , arrumou a espingarda, os coutos como no antigamente salazarento, são para quem tem poder económico ou outro. Pior que isto, não respeitam as populações das regiões aonde se inserem, em nome da tranquilidade da caça fecham caminhos públicos, proibem actividades tradicionais de subsistência como a apanha de cogumelos ou espargos, fazem desaparecer os animais "nocivos" ou os cães das aldeias e tudo isto, em benefício de uma minoria que deveria ser proibida de lá pôr os pés. É o mercado. Como eu odeio essa palavra fútil...
Impôe-se um governo que ponha os poderosos em sentido, que se criem áreas de caça social, geridas pelos municípios, aonde as várias actividades do campo sejam possiveis em benefício de quem lá vive e sem a busca do lucro. E áreas grandes, para que se possa respirar...

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