Wednesday, March 22, 2006

O meu tio J

O equinócio foi também o dia do meu tio J que aprendi a apreciar com a idade.
Na verdade não sei dele e tenho pena. Telefonamo-nos nestes dias, no Natal, e pouco mais, mas temos conversas profundamente afectivas e genuínas, o que vale.
Não sei o que faz, nem onde vive, ou como sobrevive. Tem sessenta e seis anos e está só. Caíu em desgraça nos bancos, deve dinheiro a meio mundo, divorciou-se. Tem um filho que ainda se sente mais impotente do que eu com esta situação. E uma filha que o ignora em absoluto. Já teve sorte, ou sucesso, ou o que lhe queiram chamar. Pais que o consideravam um prodígio, com um imenso futuro por diante. E chegou a tê-lo. Mas um dia a sorte virou, talvez, finalmente, aquele que sempre tivera feito as escolhas certas, tenha passado a fazer as erradas. Por vezes, a vida tem um momento fatal, um "clic" que deita tudo a perder. Com ele, houve esse momento sem retorno.
Tento forçar um encontro para perceber alguma coisa, saber como está realmente, quem o acompanha, se acompanha, aonde pára. Arranja sempre excelentes desculpas para nunca haver encontro, e sabe-me sempre a pouco aquelas conversas a telemóvel.
Ainda por cima sinto-me impotente, não só para o encontrar, mas também para lidar com a realidade que pode existir.
Do tio J não me resta mais do que boas recordações de um passado próspero, e um número de telemóvel.

1 Comments:

Blogger JPN said...

um abraço. gosto tanto de ti, camarada!

8:54 AM  

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