Thursday, July 03, 2008

O refresco

É um homem de mão cheia que parece não existir a não ser em filmes.
Fui desafiá-lo à Quinta da Fornalha para um refresco cá dos nossos. Estava de posse de uma vedação, sob a solina vagamente temperada pela brisa. Blusa de cavas como de costume, ninguém diria que estamos perante um aristocrata de berço, agricultor por devoção, que largou os catrapázios de história, os corredores académicos e escolheu a licenciatura vivente do campo, por amor à veia criadora.
Combinámos o tal do gin tónico ao poente, na tal praia, enfim o "refresco". Fui á frente para o desfrute das ondas e da maresia. Ao sol posto ele lá estava, já de posse do copázio.
Começamos a falar das ninharias que importam ao bolso. Os clientes, os porreiros e os filhos da puta, os figos lampos, a sua flor de sal, o meu mel, do que faremos os dois em parceria com mel e iogurtes biológicos. Falamos do prazer de fazer bem feito, não pela mania da pureza, mas porque somos homens de garbo. Fiquei a saber que tem costela de Mértola, terratenentes rurais mas longinquos, nada mais natural num aristocrata da conversa, depois a História, outro prazer que nos une, que bom contador da "petite histoire" ele é, conto-lhe como dou a volta a Portugal, a volta ao mundo, a contar a História aos meus filhos em viagens reais e outras imaginárias. E arranco-lhe gargalhadas lá para diante no Gin Tonico.
Tem fama de homem dificil, mas para mim é simples, ou gosta ou não gosta das gentes que se lhe cruzam, como eu, detesta os presumidos a quem faz o favor de por rapidamente a milhas terrestres. Quando virem no Corte Inglés e outros que tais, os iogurtes biológicos da Quinta da Fornalha, do Jacinto Palma Dias, saberão que por trás deles está a mão tisnada desde algarvio invulgar e inqualificável.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home