O sumo das amoras bravas
A tarde já decaia no Porto e aquele sábado estava feito na minha lidação. Iria começar um fim de semana chatíssimo e chuvoso na espera de segunda feira. Nisto, convocas-me para a festa, a magia da viagem. Foi o que eu quis ouvir. Num ápice vejo-me a percorrer a auto-estrada para lá do Alvão. Percorri o Minho ancestral até à rarefacção dos povos, entrei na terra de Basto, nas alturas do Alvão, num arrepio não de frio, mas de prazer. Eram os horizontes, as montanhas, os vales húmidos. Eram os olhos e o coração. Eu era um rei no caminho da coroação. À velocidade da vertigem.
Cheguei no lusco fusco como na porta de um santuário. Estavas à minha espera na entrada do povo, e pela mão entrámos no arraial. Havia uma vitela a assar em crime de lesa ASAE, cervejas e amigos espantados com o inesperado da aparição. O teatro da Rainha era a estrela, o teu clã estava de parabéns pela organização e pela ideia de fazer algo assim pela terra. Eu estava contente, orgulhoso de estar ali pela tua mão, tu a mostrares-me o teu habitat sentimental. A noite continuou pela adega da prima, bem provida de vinhos brancos e tintos, iguarias térreas e calor de acolhimento. Acabei semi-clandestino entre o granito do teu quarto, aonde me entronizaste ao acordar.
Segui a minha vida já o sol ia alto, perdi-me de euforia por estradas florestais, pelos contrafortes barrosões e tenho bem nítido aquele bosque de carvalhos, com os gaios grasnantes, aonde desfrutei da fruta dos silvados, o sumo das amoras bravas que doravante são o suco da minha vida contigo. Há dias que valem pelos anos. Os dias em que me surpreendes com o amor.
1 Comments:
Porra!
:)
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