Friday, August 08, 2008

Uma viagem

Era mau dia para viagens, mas assim calhou ir buscar-te à da tua avó materna.
Ia eu pelo caminho resmoendo raivas, a rosnar o troco a dar áquele senhor, que por acidente é teu avõ, enquanto tu olhavas os pinhais, as florestas da beira Tejo, entre Abrantes e o Fratel. Fui salvo pelos óculos escuros que me esconderam os olhos.
Foste tu a puxar a conversa como por cordel, e em breve, no meu camião de carregador de mel, entravam os cem dias de Napoleão, o bisavô Bravo há cem anos nos sertões africanos, as aventuras coloniais de Serpa Pinto e do Doutor Livingston, os holocaustos do ultimo século, a ruim natureza do bicho homem, a tuberculose que levou cedo o genial tio Justino de Campos.
E porque se morre, perguntas tu. Talvez para colhermos o perfume dos dias de vida, para fazermos alguma coisa com este tempo de excepção, para nos embebedar-mos de emoções boas, semear futuro nos que amamos, sei lá, pouco sei dessa hora e das que se lhe seguem, que desconfio bem serem nenhumas
Quando eu morrer quero ser um gato, acrescentas. E vais contente.

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