Monday, August 21, 2006

Os cardos do campo branco

Um pouco por todo o Alentejo há uma discreta floração de Agosto, um cardo de flor amarela a que chamam o cardo asnil ou cardo dos burros.
No campo branco- a planície cor de pêlo de camelo, aonde uma árvore é um mero acidente da paisagem, para os lados de Castro Verde e Almodôvar- o verão é dos cardos e dos Sisões.
O horizonte é interminável, esbatido numa bruma de calor constante. Para lá transumei colmeias, perseguindo a miragem de um escasso néctar, uma minguada oferta da natureza.
Agosto é o mês das branduras de Verão, as orvalhadas. O cardo bebe essa escassa água da madrugada e devolve-a na forma de néctar, ao sol das manhãs do estio. Com ele, fazem as abelhas um mel improvável e denso, de cristalização rápida e coloração tendencialmente branca aquando da chegada dos primeiros frios do outono, que logo o solidificam.
Poucos homens do campo, poucos móirais de rebanhos, imaginam a serventia que estes cardos podem ter, para além de picarem a focinheira dos gádos, mas este, é mais uma riqueza escondida da natureza áspera do verão alentejano.

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