O pacifista condicional
Se for um pacifista, sou o pacifista condicional.
Há vinte anos fui objector de consciência ao serviço militar. Objectei a abjecção de não ter consciencia e o autoritarismo inerente à condição militar. Só poderia estar num quartel, se podesse bater, eventualmente, no coronel.
Fiz profissão de fé na liberdade, para nunca ser o soldado inglês que se suicidou, por não suportar matar inocentes no Iraque. Sou objector de consciencia porque não quero ser um cordeiro de sacrifício em tempo algum. Mas não foi pelo meu passado de activista anti-militarista que fui contra a invasão do Iraque ou que fico chocado com a aventura dos falcões israelitas nos tempos que correm. É apenas por uma questão de bom senso, de achar convictamente que essas tropelias degeneram noutros males igualmente inúteis, numa espiral de mal, sem fim á vista.
Mas o pacifismo acaba aqui, no ponto da dúvida, na visão dos teocratas iranianos, no arrepio que me provocam, no nó de estomago de já ter visto aquilo, noutra vida , talvez. O meu pacifismo fica-se por aqui, nas covas, quando penso que custe o que custar, aqueles individuos não podem ter armas atómicas. Não sei o que fazer, que bom é agora não ter poder, porque não o saberia exercer num tempo assim.
Não partilho nada a visão de uma certa esquerda, com a cartilha da moralidade no saco e a fingir que não é nada, a representar o mesmo papel demissionário que os países europeus tiveram nos anos trinta perante a corrida armamentista do Reich.
Volto ao começo, ser contra a guerra não me obriga a ser o cordeirinho pascal, não nasci para isso.
Há vinte anos fui objector de consciência ao serviço militar. Objectei a abjecção de não ter consciencia e o autoritarismo inerente à condição militar. Só poderia estar num quartel, se podesse bater, eventualmente, no coronel.
Fiz profissão de fé na liberdade, para nunca ser o soldado inglês que se suicidou, por não suportar matar inocentes no Iraque. Sou objector de consciencia porque não quero ser um cordeiro de sacrifício em tempo algum. Mas não foi pelo meu passado de activista anti-militarista que fui contra a invasão do Iraque ou que fico chocado com a aventura dos falcões israelitas nos tempos que correm. É apenas por uma questão de bom senso, de achar convictamente que essas tropelias degeneram noutros males igualmente inúteis, numa espiral de mal, sem fim á vista.
Mas o pacifismo acaba aqui, no ponto da dúvida, na visão dos teocratas iranianos, no arrepio que me provocam, no nó de estomago de já ter visto aquilo, noutra vida , talvez. O meu pacifismo fica-se por aqui, nas covas, quando penso que custe o que custar, aqueles individuos não podem ter armas atómicas. Não sei o que fazer, que bom é agora não ter poder, porque não o saberia exercer num tempo assim.
Não partilho nada a visão de uma certa esquerda, com a cartilha da moralidade no saco e a fingir que não é nada, a representar o mesmo papel demissionário que os países europeus tiveram nos anos trinta perante a corrida armamentista do Reich.
Volto ao começo, ser contra a guerra não me obriga a ser o cordeirinho pascal, não nasci para isso.
7 Comments:
Tu sabes que eu sou pacifista e que por isso, na questão do poder nuclear iraniano, estarei sempre numa posição desconfortável. Poderá um pacifista ser a favor das pretensões nucleares de um Estado, seja ele qual for? Como é que isso é possível, P.? Não estou. Assumo o radicalismo: deprecio a opção "nuclear" em todas as suas vertentes. Ou seja, se me parece que o pomo da discórdia é o princípio da desigualdade instalado nas relações entre pares, e deveríamos reconhecer a paridade entre Estados, é um contrasenso não sujeitar o Estado iraniano ao mesmo princípio de não nuclearização do mundo que é o que mais me agrada. O nuclear iraniano não é bom em contraponto ao nuclear americano ou israelita. No entanto é importante verificar duas coisas: primeiro os iranianos dizem que estão a explorar o nuclear para meios pacíficos. Não estou a dizer que isto seja verdadeiro porque, certo e sabido, se estivessem a fazê-lo para fins militares explorariam sempre esta brecha que seria a possibilidade de confundirem as opiniões públicas ocidentais com essa ambiguidade, estou só a dizer que não reconhecer essa afirmação iraniana é começar logo com um pressuposto tramado: eles não são iguais a nós. Porquê? Deveríamos perceber porquê. Deveríamos perceber porque é que nos acalma mais o espírito um Bush à frente do exército mais poderoso do mundo e não um presidente iraniano blogueiro anti-sionista. É preciso ver que a opção nuclear foi ponderada no caso do Iraque. Chegou a ser aventada e laconicamente desmentida com um " não está em cima da mesa neste momento o recurso a armamento não convencional". Por isso se começarmos a ter mais medo de nós mesmos ou daqueles que defendem os nossos, e Portugal está inscrito na Nato e é um parceiro atlántico dos EUA sendo por isso co-responsável com todas as aventuras militares que impliquem as Lajes, talvez não fosse má metodologia. Digo eu. Também tenho medo dos ayatolahs iranianos. Isso não me impede de reparar que as objecções em relação ao nuclear iraniano (nem falo já do nuclear nortecoreano, sou avesso a esta mercearia geopolítica, embora devamos reconhecer que a dualidade de critérios joga a favor do Irão) partem mais daquilo que nós pensamos que eles poderão tornar-se do que em princípios objectivos que possam regular as relações entre Estados iguais. E partem mais de outra coisa que raramente conseguimos assumir: nós, para além desse medo fantasmagórico que nos está a travestir de lobos, não tememos tanto o facto do Irão ter capacidade nuclear, mas sim o fato de, por Israel o ter, poder haver outra potência na zona a dispôr desse tipo de armamento. Porque o que nós tememos é a natureza descontrolada que o pânico israelita assume. E temos todas as razões para isso. Um país que arrasa grande parte de outro com o pretexto de escarafunchar o território à procura de dois soldados não é muito confiável. É aqui, e não tanto no paepl demissionário que os países europeus tiveram nos anos 30 que deveremos encontrar algumas luzes para a compreensão do mundo de hoje, P. Nos anos 30 a Europa estava do lado certo. No começo do século XXI, a natureza demissionária da Europa (que é uma qualidade, quer dizer que somos menos afeitos ao belicismo como pedra de toque para a resolução de conflitos) talvez esteja na forma como se deixa arrastar pelo seu parceiro mais poderoso.
Insisto ainda num ponto: o papel do Irão no equilibrio no Médio Oriente. Se tentarmos analisar, com o nosso deconhecimento crónico do que lá realmente se passa, e eu serei nisso um dos mais ignorantes, verificamos que nos últimos vinte, trinta anos aquilo que se chama mundo árabe, tem procurado uma unidade. Essa unidade tanto se reflecte num dos papéis cruciais que os países árabes têm, o económico, com o fornecimento de petróleo, como no domínio político, e a questão da Palestina tem sido o grande elemento reunificador dos países árabes, como no religioso, onde Meca tem assumido uma constante importância, e ultimamente, o militar, com as acções terroristas e/ou a luta armada. Era bom que pensássemos na nossa relação com cada um destes aspectos. Que incentivo é que damos por exemplo ao aparecimento de regimes democráticos no Médio Oriente?Acreditamos ainda nisso, que seja possível a convivência democrática no Médio Oriente? Porque dizemos que sim. E se dissermos que sim e não acreditarmos nisso mas sujeitarmos as nossas acções a esse principio de eloquência, então estamos a ser tão falsos como pressupomos que os iranianos são na questão do nuclear. Talvez tenha chegado a hora de nos vermos ao espelho, P. De percebermos que há tanto de monstros em nós como de cordeiros. Tal como nos iranianos. Falo-te de bom-senso portanto. Poderemos pensar que poderemos sufragar, demissionariamente digo eu, este poço sem fundo em que se tornou a iniciativa ocidental no Médio Oriente. Anteontem o Afeganistão. Ontem o Iraque. Há pouco o Líbano. Amanhã o Irão. Tu acreditas mesmo que no futuro alguém que pegue num compêndio de história dará razão a esta loucura e ensandecimento?
É evidente que o mundo governado pelos ayatolahs iranianos assusta. E assustará cada vez mais enquanto esse assunto for tratado pelas nossas máquinas de desenvlver o imaginário do medo. Sobre isso lembro-me sempre de uma história que se passou comigo: no dia 16 de Serembro de 2001 eu tinha de ir, com o Adolfo Gutkin, a Valência, para um Encontro de Autores de Teatro. O aeroporto estava sobre um regime de segurança fortíssimo que, curiosamente. exponenciava o perigo. Ou seja, tudo adquiria uma valência de potencial destruidor. Aquela mala daquela mulher de tez mais escurecida, o olhar daquele homem que se diria no norte de África, et, etc. No avião olhei os meus parceiros de voo à procura de um ar mais ameaçador. Quem seria de entre aqueles o que poderia dirigir-se à tripulação e fazer um atentado? Escrutinei todos os passageiros e pareciam-me que a maioria estava com cara de facínoras. Contei isso ao Gutkin. "-Não é assustador? Parece gente capaz de mandar tudo isto pelos ares. Já vista as caras deles?". Gutkin, que já viveu de outras formas tudo isto muitas vezes, disse-me: "-Repara melhor. A maior parte deles está apreensiva por causa de nós. Eu argentino, com este ar diferente, Tu, moreno, pareces um magrebino." Aquilo bateu-me. É claro que eu não teria agora medo de mim por causa do meu aspecto, mas percebi o quanto de irracional existe na nossa ompreensão da realidade. Fiz uma viagem mais segura. Só de pensar que era eu a possível ameaça dava-me uma grande tranquilidade. Ou seja e claro que a história é pueril mas para mim ainda hoje me serve para interpelar o meu medo com algumas questões básicas. grande abraço
Caro jpn
A moral não comanda toda a história da humanidade, esbarra na sobrevivência. O medo existe porque carregamos às costas a história, demasiada história. E é bom recordar que existe, desde que o mundo é mundo,a "real-politic", imune aos porquês morais.
Para te contentar a ti e a mim,elaborei uma regra simples para a questão nuclear: Proibição de possuir armas atómicas para todos aqueles que acreditam na vida eterna.
Sendo eu agnóstico, não posso aceitar que quem espera uma vida eterna-logo duvido que saiba bem valorizar a vida terrena-possa alguma vez pensar em fazer mau uso de armas atómicas com a vã promessa de ter a recompensa celestial.Porque são estes os perigosos, os que em nome de uma fé infinita tudo podem fazer e eu não tenho culpa de não ter fé. E a minha fé na humanidade também já conheceu melhores dias.....
Abraço
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Gostei do axioma, ao qual darei um contributo das novas tecnologias, abrindo assim caminho para algo que nos apraz aos dois, agnósticos confessos: Proibição de possuir armas atómicas para todos aqueles que acreditam na vida e@terna. mas meu caro, sobre a ética e a sobrevivência há que dizer uma coisa muito importante (e Primo Levi em "Se isto é um homem" ajuda-nos a pensar em como não conhecemos os limites ou os patamares minímos da sobrevivência, física, ética e política): a ideia de sobrevivência física, na espécie humana, não se sobrepôe sempre à cultura (englobando nela a politica e a religião), ou seja à ideia de como se sobrevive. senão não tinhas o suicidio daquele jovem e por isso insisto na sabedoria do seu tresloucado acto (parece contraditório mas é apenas paradoxal). senão não tinhas pessoas a morrer pela pátria, por alá, pela sua familia. e isso humaniza todas as guerras em todos os cenários do mundo. eu diria mais mas é especulação pura: a propaganda, visa retirar o guerreiro de qualquer influência de uma relação cultural para que ele se possa tornar numa máquina de guerra. é bom que não o esqueçamos e muito menos que tenhamos de ser agnósticos como nós a lembrá-lo: uma das mortes do mundo não é a dimensão do espiritual, do sagrado, na vida de cada um. essa morte que mata o mundo é Deus como arma e finalidade na ponta das baionetas.
gralha, rsrs: "para aqueles que não acreditam na vida e @ terna
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