Doutor Souza comprador de dois penicos que foi em Alcaria
de noite os usou
pela manhã já os não queria.

 
Era tal doutor figura grada por estas bandas do campo branco. Vindo de terras beiroas, pródigas em doutores e deles cerimoniosas, aqui casou com uma dona Eglantina de teres e haveres basta, e constituiram um rico casal de terratenentes.
Certo dia, o doutor ansiando por criar boa impressão domés...

tica, foi à venda do Julio orçar e arrematar dois magnificos penicos, com os quais surpreender a sua lavradora. A casa chegado, não foi a oferenda festejada com as ansias esperadas e logo na manhã seguinte se apresentou na venda para devolver os penicos, com algum alarme social.
Havia lá na aldeia um cantoneiro vindo das bandas de Ervidel, de nome Tomás, destro nas palavras, setas venenosas em verso, dos quais era compulsivo. Logo ali do
nada, proclamou a quadra, rimance chocarreiro de tão douta dignidade.
Por acasos salazaristas, era o Doutor Souza, presidente da insigne câmara municipal, lugar decorativo mas de espavento. Logo o repentista Tomás foi engavetado no posto, três dias e três noites e só não foram mais os pontapés e as punhadas porque tamanha verve se desfez em versos e loas a Salazar, ao que todos no posto da guardilha concluiram que afinal tanta incontinencia verbal, só poderia anunciar um fervoroso patriota. E lá seguiu o Tomás das quadras para a sua aldeia de Alcaria, sonhando o destino da proxima quadra, talvez em intenção da mítica e ansiada revolução a que ainda assistiu.