Os amigos
Uma coisa eu
sei, até dois cães que se cruzem numa azinhaga dizem alguma coisa um ao outro,
encostam os focinhos, abanam o rabo, trocam salamaleques no falar deles. Gente
que se encontre aí por uma vereda, ou mesmo em rua de aldeia, sem nada dizerem,
não são gente, nem sequer condição têm de bichos que, como sabemos já, se cumprimentam.
Mas falar a
quem se nos apresenta no caminho é uma coisa, amizade vem a ser outra. O meu
compadre António é um chico fininho de falinhas mansas. Recebi-o sempre bem,
nunca faltou nada na minha mesa quando ele chegava com a boca carregada de
parvoeiras, conversas de garganeiro, veja-se que havia sempre fartura de
cervejas, de pão, de carne, comida a rodos e portas escancaradas, mas ainda
assim, pedinchava sempre por mais, jogava olhos de cobiça e mãos também, a tudo
quanto alcançava. Tanto fez que tive que o botar da porta para fora, nalgas
pelo chão à poeira da rua. Acabaram-se de vez as conversetas.
Já com o
Comendinha, que Deus tem, desde a primeira hora me entendi, estávamos sempre de
acordo fosse na caça, fosse a apanhar azeitonas, a acender o forno para os
bolos da festa, a jogar à carta, ou a cantar umas saias. Eramos camaradas para
a paródia ou para o trabalho, nunca um ficou devendo nada ao outro. E assim é
que é bonito! E já agora, tu não sabes, que és novo, mas eu vou dizer, o teu
maior amigo é o teu pai, a seguir sou eu.
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