Tuesday, January 08, 2013



Inocêncio Florindo era um janota, dia em que lavasse os dentes não engraxava os sapatos, ninguém lhe olharia para os pés, podendo mirar o branquejar das suas favolas. Pela mesma ordem de ideias, estava dispensado de lavar os dentes, em dia em que lhe brilhassem as botas de elástico.
Suas unicas preocupações consistiam na fruição de vida galante e na manutenção do deve e haver com o além, mas gostava mesmo era de passear, matutando nostalgico nos seus tempos de marinhagem, num mero passeio dos tristes pela beira rio, ou numa ida à igreja a confessar-se.
Vestia-se no seu fato de ir ver a deus, sapatos de pôpa à proa, desfilava pelas alamedas de jacarandás até chegar à matriz, aonde se ajoelhava no confessionário, e entre loas, ladainhas, profissões de fé e algumas patranhas, saía aliviado em absolvições, altivo no seu chapeu de tufão das indias, impante, a distribuir bilhetinhos pelas criadinhas que o saudavam às janelas, frenéticas de risinhos e mexericos. Era esta a vida linda de Inocêncio Florindo, plena em suas particulares delicias.

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