Saturday, February 10, 2018

Deus consta que existe, mas não se lembra Barbinha de o ter visto algum dia. 
Barbinha está já enfadada com o tempo, ele é só busaranhos, o panamá russo não lhe para na cabeça, o seu praguejar ágil percorre cerros e barrancos num trovejar de maus modos. Nada é a desejo, só ventanias e do mais, minguas.
Traz a burra pela arreata, vem da serra com o carrego das arreigotas para aquecer as casas aonde se recolhe mais o besto que percorre o corredor até ao quarto do fundo, chão de terra, rocha e palhas trigueiras, eis o soalho dos seus cómodos.
Barbinha dorme na sala da salgadeira, não casou, ao menos ninguém lhe apoquenta, só se rala com a vida que lhe calhou farrusca e empoeirada, para a sua mesa sabe-o ela, não há ninguém que se faça convidado. Miga couves com farelos para as galinhas, dá a serralha aos coelhos nas gaiolas, levanta a saia para dar de corpo no quintal, o dia já aborrece mas não se completa sem entrar na venda do António, sempre tesa, espanta as conversas como se fossem moscas, só quer molhar o bigodinho tenso num bagacinho antes de recolher à enxerga pelo sol-posto. Sai tão mal encarada como entrou, resmordendo coisas no seu modo de carapeto seco. O vento é que não se cala.


Nunca Barbinha viu a Deus, mas a um bom naco de toucinho ela diz Amen.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home