Thursday, February 08, 2018

_ Não te dói nada?
- Ora, não! Tinha que doer?
Anda aí uma sinfonia dos ais: ai isto, ai aquilo, ai a perna, ai as costas, ai agora: foi até para isso que se inventaram os virtuosos, para acudir a essas dores do esqueleto e suas carnaduras, excluindo bem entendido o ai amor que pertence a outras avarias.
Eu, é mais nas costas, não sei como foi, que me custa mexer o braço, nem uma punhada em condições consigo dar sendo caso disso. Mas aonde vou?
É só pantominas, havia um no Algarve, o Idalécio, grande disparate de homem, tinha mais de cem quilos, certo dia fui lá com o meu pai e andava ele de posse de um homenzito pequenino, levantou-o no ar agarrado pelas mãos, quando o largou disse que já estava amanhadinho, só assim, mais nada, o outro abalou deixando uma nota, mas pelo andar via-se que ia tão torcido como para lá entrou e ainda com menos qualquer coisa. O ucraniano que havia aqui era outro, tinha sempre freguesia e vinda de bem longe, era um corremaço de gente, mas chegava-lhe bem na bebida, até se me endireitaram logo as costas quando certo dia o vi de joelhos aos saltos em cima do lombo de um sujeito que lá foi cair a queixar-se dos bicos de papagaio. Abalei de costa bem direita, ainda que me doesse, enquanto o outro se amanhava lá com o bafo a aguardente e as calcadelas que o Yuri lhe dava. Ná! massagens e pantominas até sei como principiam, agora como acabam, isso já é outra história…
- Hé companheiro!- Assim bradou o homem comprido e com três cabelos.
O homem era estranho, vestia-se mal, parecia gente da passa, mas falava bem, com bonita maneira. Eu estava desmanchado das costas e tinha que andar a cavar com um pique e já não tinha maneira de estar. Ele trazia um frasco grande da tofina na mão com uma caldivanada amarela aonde boiavam umas cabeças de alho, dizia ser tratamento para as costas, coisas naturais, era só esfregar cachaço abaixo e ficava logo bom e não queria receber dinheiro, bastava-lhe fazer bem a alguém que já recebia em felicidade. Tanto falou de olhinhos a brilhar como estrelas, que dei comigo na cama, de roupa puxada para cima- estava lá a mulher comigo, não se ria que não tinha maldade nenhuma-, e o homem todo contente a untar-me as costas lá com o líquido dele. Bem, parecia melhor até me querer mexer, mal tive ideia de me levantar, as dores eram facas na espinha. Adeus, adeus, Deus lhe pague que não tenho troco.
Ah! Fado de um cabrão!

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