O meu avô Gustavo de Vasconcelos pintava muito melhor do que o
anonimato da sua obra faz supor. Após ter pintado desmedidamente a mulher de um
arquitecto, as contingências da vida levaram-no já no final, a Moçambique,
aonde se sensibilizou com a languidez das mulheres africanas. Dele regressou
apenas um malão da Companhia Nacional de Navegação com os seus objectos
pessoais e algumas telas, entre elas esta, que a minha avó, mais apreciadora de
retratos de bispos e naturezas mortas, encafuou para um corredor esconso e mal
iluminado.Passei a minha infância a perguntar-lhe o que era isto, e ela sempre
a responder-me tratar-se de um tronco de oliveira. Até ao dia em que comecei a
ver aqui outras coisas, bem, enfim, passei à idade adulta.
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