Custosa de dar mão
- Se já em nova era ela custosa de dar mão, agora, claro,
leva o tempo a sacudir-me.
À sombra da oliveira, naquela tarde de Junho, Inácio mexia
na barbinha aparada enquanto bebericava uma cerveja e arranjava explicações
para a vida. Não tinha muito de que se queixar, um emprego no estado bem pago,
um carro razoável, a filha já constituída doutora, sobrava-lhe o tempo para
tocar clarinete na filarmónica e ainda para possuir umas abelhas lá para os lados
de São Sebastião. Mas, Ó vida! Não chegava.
- Isto das abelhas é só uma entretenga, uma boa razão para não
parar em casa. Apanho ali cem ou duzentos quilos de mel, vou vender aquilo em
frasquinhos, um aqui, outro ali, dinheiro de sardinhas! Quando dou noticia
aquilo não é nada.
Inácio levou a mine à boca e de um trago ganhou fôlego para
o devir.
- Sabes a bem dizer o que lhe faço?- Os olhinhos verdes,
miudinhos, fizeram-se-lhe bailarinos.
- Atiro as moedas para uma lata, faço ali um migalheiro e
quando lá tiver algum que se veja, sacudo de lá o dinheiro e vou passear a um
sitio escuro, longe daqui, lugar aonde me não conhecem. Tem lá mulheres de
todas as cores, feitios e medidas.
- Aquilo lá em casa já prescreveu, agora, nem que fizesse um
requerimento em papel selado. Ela foi sempre custosa de dar mão.
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