Restolho de Meciares
Já o trigo se debulhou em Meciares, lugar ermo, certamente
provido da mercê de bons ares. Os restolhos entregues ao gado, o badalar do
rebanho corta a cantoria das cotovias, pássaros pardos, vizinhos das palhas.
- Não mora cá ninguém, já fomos muitos, alguns trinta. Eu
resisti por cá, apanhava umas túberas, pescava, tinha artes de armar laços,
sempre me ia governando com o que aí havia, tanto, que um dia quando mudou a
moeda, enchi uma saca grande, dessas do adubo, cheínha de notas que lá havia
para trocar. Cheguei ao alcatrão e fiz alto ao primeiro carro que passou para a
vila, levando a saca aos pés. Na Caixa, o gerente fechou a porta para ficarem à
vontade contando o dinheiro. Quando de lá saí, levava menos quantidade de
notas, estes euros não têm jeito nenhum. Vou para velho, estou um merdas, mas
mesmo sendo um penante que nem motorizada tem, consegui arrebanhar umas massas.
Não sei donde chega este falar, talvez de dentro da taipa
das paredes, estamos na hora da calma, nada bule por aqui, é apenas um lugar de
memórias a caminho da ruína. E o que ficou é restolho.
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