Brisa de levante, as cigarras pulam aos ouvidos.
Jerónimo vem do cerro gordo com os coelhos pendurados,
direito á venda do Raposo, aonde chegará o senhor Domingos a juntar a caça que
todos para lá carregam, e que fará chegar à mesa dos senhores, lá na cidade
distante. O irmão fugiu no ano passado com a mulher do Gustavo, nunca mais
apareceram, foram sem deixar rasto, no estrangeiro ganham a vidinha deles longe
dos enredos que cá ficaram.
Jerónimo, o irmão com natureza para se deixar ficar, sem
atrevimento sequer para arranjar mulher, destinado pelo acaso e inércia a ficar
em casa, dado à mãe, aos seus comeres. Ela trata das roupas, põe comida na
mesa, e até lhe faz meia de calçar. A sua casa é na sociedade com os demais,
igualmente moços solteiros de todas as idades, uns sem ninguém, outros com mãe
ou irmã a bradar-lhes para jantar à hora aprazada. É com os outros que há
paródia, conversas correntes, talentos no jogo da carta, caracóis no pires e o
Benfica para sofrer.
Jerónimo é novo e sofre do coração, um dia passou ali uma
professora e o rasto do seu perfume indicava um caminho direto à felicidade que
Jerónimo não alcançou por falta de palavras. Ficou a poeira da carreira que a
levou no final do ano para o desconhecido do seu futuro de moça casadoira, peito
saltitante no vago decote, lá se foi empoleirada no garbo dos seus saltos, para
bem longe do olhar vergonhoso de Jerónimo, que quedo ficou na paisagem, sem
palavras achadas, impregnado de cheiro a mato e solidão.
Castro Marim, 1 de Setembro de 2013
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