Sunday, September 01, 2013


Brisa de levante, as cigarras pulam aos ouvidos.
Jerónimo vem do cerro gordo com os coelhos pendurados, direito á venda do Raposo, aonde chegará o senhor Domingos a juntar a caça que todos para lá carregam, e que fará chegar à mesa dos senhores, lá na cidade distante. O irmão fugiu no ano passado com a mulher do Gustavo, nunca mais apareceram, foram sem deixar rasto, no estrangeiro ganham a vidinha deles longe dos enredos que cá ficaram.
Jerónimo, o irmão com natureza para se deixar ficar, sem atrevimento sequer para arranjar mulher, destinado pelo acaso e inércia a ficar em casa, dado à mãe, aos seus comeres. Ela trata das roupas, põe comida na mesa, e até lhe faz meia de calçar. A sua casa é na sociedade com os demais, igualmente moços solteiros de todas as idades, uns sem ninguém, outros com mãe ou irmã a bradar-lhes para jantar à hora aprazada. É com os outros que há paródia, conversas correntes, talentos no jogo da carta, caracóis no pires e o Benfica para sofrer.
Jerónimo é novo e sofre do coração, um dia passou ali uma professora e o rasto do seu perfume indicava um caminho direto à felicidade que Jerónimo não alcançou por falta de palavras. Ficou a poeira da carreira que a levou no final do ano para o desconhecido do seu futuro de moça casadoira, peito saltitante no vago decote, lá se foi empoleirada no garbo dos seus saltos, para bem longe do olhar vergonhoso de Jerónimo, que quedo ficou na paisagem, sem palavras achadas, impregnado de cheiro a mato e solidão.

 

Castro Marim, 1 de Setembro de 2013

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