As abelhas são uma névoa que passa na vida da gente.
Tudo principiou na curiosidade infantil por estranhos
objectos enleados em teias de tempo e aranha. Ele eram colmeias desbotadas, um
centrifugador perro e chiante, quadros meio despregados, uma garrafa de
hidromel já com formigas dentro e esquecida num armário velho. Heranças do meu
avô, um neo- rural, antes do tempo em que isso passou a estar tipificado por
académicos, desses que buscam a classificação de tudo. Gustavo era um homem da
cidade surpreendido e tocado pelo grande espaço quase africano do sul, veio
fazer agricultura munido de livros e tratados positivistas, autenticas odes
triunfais da lavoura. Lá vinham os manuais de apicultura, moderna à época, que
fizeram dele um pioneiro do mobilismo e com essa sede de modernidade vieram das
primeiras colmeias moveis que se viram no Alentejo. O entusiasmo não resistiu a
uma manhã de cresta que descambou num pandemónio de picadelas, com as abelhas
em fúria a matarem perus e galinhas e a ferrarem até em árvores. Enfadou-se com
tanta fúria e encostou as abelhas no esquecimento. Trinta anos depois, um neto
iria conhecer a cigueira das abelhas, provar do seu veneno e procurar a alma
das flores, o sentido alquímico que existe em cada frasco de mel.
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