Wednesday, July 24, 2013


As abelhas são uma névoa que passa na vida da gente.
Tudo principiou na curiosidade infantil por estranhos objectos enleados em teias de tempo e aranha. Ele eram colmeias desbotadas, um centrifugador perro e chiante, quadros meio despregados, uma garrafa de hidromel já com formigas dentro e esquecida num armário velho. Heranças do meu avô, um neo- rural, antes do tempo em que isso passou a estar tipificado por académicos, desses que buscam a classificação de tudo. Gustavo era um homem da cidade surpreendido e tocado pelo grande espaço quase africano do sul, veio fazer agricultura munido de livros e tratados positivistas, autenticas odes triunfais da lavoura. Lá vinham os manuais de apicultura, moderna à época, que fizeram dele um pioneiro do mobilismo e com essa sede de modernidade vieram das primeiras colmeias moveis que se viram no Alentejo. O entusiasmo não resistiu a uma manhã de cresta que descambou num pandemónio de picadelas, com as abelhas em fúria a matarem perus e galinhas e a ferrarem até em árvores. Enfadou-se com tanta fúria e encostou as abelhas no esquecimento. Trinta anos depois, um neto iria conhecer a cigueira das abelhas, provar do seu veneno e procurar a alma das flores, o sentido alquímico que existe em cada frasco de mel.

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