Nos olhos marítimos de Jerónimo, muitas princesas e rainhas
o foram por um dia, e neles se afogaram sem contemplações de alma. Jerónimo, de
bastas melenas alouradas do sol, desafia os dias ao acaso.
A sua aventura começou na baixa nazarena, criado aos baldões
em casa de pai abrutalhado pela bebida, a ir ao mar, ainda criança nas
traineiras, à sardinha ao largo das berlengas, o miúdo foi crescendo com medo e
porradas, até ganhar o gosto de os desafiar. Um dia, ainda menor mas já com
estampa de rapazão, virou as costas à casa aonde imperava a demência alcoólica
do pai e fugiu para bem longe, para outro porto de pesca em busca de uma
traineira que o levasse para a vida, se possível algures, por bandas do sol posto.
Não arranjou barco, antes companha de um desembarcadiço que
vivia de fazer pão e comer laranjas bravas num monte alentejano sem água, luz,
eira nem beira. Ente os sobreiros da Boavista, estava plantado o modestíssimo
monte de paredes caiadas, aonde uma micro coletividade masculina desenrascava a
vida sem outras preocupações que comer, viver o sol e o mar próximo, cozer pão
duro e secar fruta. Jerónimo atraía público feminino suficiente para a animação
da vizinhança, idosa e circunscrita aos seus metros quadrados de mundo. Elas
apareciam, umas louras, outras morenas, grandes ou pequenas, a pé, de bicicleta
ou trotineta, até de automóvel, vejam lá o que eram as ânsias.
Entrou na mitologia daqueles sítios, a aura de bom bandido
de Jerónimo, esparramado na praia do Pessegueiro, nuzinho como Adão no paraíso,
cuidando do tisnar de suas curvas que muito proveito rendiam nos favores das
mulheres. Estava naquele desfrute de paraíso quando ouviu chegar a guardilha
ofendida com tal ousadia, homem nu na praia a pedir ordem de prisão, em defesa
da reputação nacional, pátria de bons e sãos costumes. Jerónimo não se ficou
quieto, chamou-os a si, jogou-se ao mar e nadou, nadou até à ilha do
Pessegueiro, donde o puderam avistar fazendo gaifonas à autoridade e dizendo o
que bem lhe apetecia.
No dia seguinte, já ele lá estava outra vez, deitado,
nuínho, sonhando com os seus dias de vida propícia ao prazer, sempre com
aqueles olhos, topázios de infinitos encantos para princesas encantadas, fossem
elas mouras ou frauleines.
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