Angelo Salvador era o ultimo moleiro da serra de Grândola.
Lá bem no alto, com o mar à vista e a Arrábida ao longe, as velas do seu moinho zuniam ao vento oceânico. A idade concedera-lhe vagares e um carro velho. Do pai ficou um moinho, colmeias de lusalite, e uns olhos azuis liquidos e ladinos que muitas moças ajudaram a desgraçar. Com estas ferramentas de vida se ia governando, varria a farinha para dentro de sacos e mais uns ovos da capoeira, uns queijos que negociava e uns frascos de mel mal coado, ia ao mercado fazer pela vida. Com pouco mais do que uma piscadela de olho arranjou uma lavradora e que boa ela era, tinha cortiça.
Assim o achei estabelecido na floresta de sobreiros da Boavista, pouco interessado em alemoas, mais entretido a varrer farinha do chão e a soprar o pó dos queijos frescos tombados pelo cão durante a noite. Da sua velha, dizia ser quente, utilitária nas noites de Janeiro em que as corujas cantavam nas eiras e parecia gear como para lá da serra. Dava-se mal com os vizinhos Archada, uns bichos, par de irmãos gémeos, minorcas, magros, e negros de vida sem agua, entre cabras e galinhas, moradores em monte sem chaminé, sem janelas e abundante de fumarada .Salvador tinha-me em conta de deus das abelhas, de entendido que ali tinha caido do céu, pois desse assunto só entendia o vender mel em frascos da tofina nas feiras, de preferência aparecessem já cheios, sem a lagariça que ele promovia, centrifugando as poucas alças na casa de telha vã, por entre um enxame de abelhas voando e caindo, nos baldes do mel donde ia depois catá-las, afogadas . Era uma apicultura de precária rapina para a qual me convidava a dar assessoria, enquanto ele, à vista da primeira abelha, logo se refugiava no moinho donde aparecia o nariz à porta, insistente a perguntar, fosse verão ou inverno:
- Têm méli?
Passaram os anos sem lá ir, nesse tempo sonhei várias vezes que já nem moleiro, nem lavradora, nem moinho, gémeos bestiais, ou sobreiros, nem sequer alemoas boas. Pesadelos.
Quando fui, encontrei apenas uma vivenda com vista para o mar e um muro bem alto.
Lá bem no alto, com o mar à vista e a Arrábida ao longe, as velas do seu moinho zuniam ao vento oceânico. A idade concedera-lhe vagares e um carro velho. Do pai ficou um moinho, colmeias de lusalite, e uns olhos azuis liquidos e ladinos que muitas moças ajudaram a desgraçar. Com estas ferramentas de vida se ia governando, varria a farinha para dentro de sacos e mais uns ovos da capoeira, uns queijos que negociava e uns frascos de mel mal coado, ia ao mercado fazer pela vida. Com pouco mais do que uma piscadela de olho arranjou uma lavradora e que boa ela era, tinha cortiça.
Assim o achei estabelecido na floresta de sobreiros da Boavista, pouco interessado em alemoas, mais entretido a varrer farinha do chão e a soprar o pó dos queijos frescos tombados pelo cão durante a noite. Da sua velha, dizia ser quente, utilitária nas noites de Janeiro em que as corujas cantavam nas eiras e parecia gear como para lá da serra. Dava-se mal com os vizinhos Archada, uns bichos, par de irmãos gémeos, minorcas, magros, e negros de vida sem agua, entre cabras e galinhas, moradores em monte sem chaminé, sem janelas e abundante de fumarada .Salvador tinha-me em conta de deus das abelhas, de entendido que ali tinha caido do céu, pois desse assunto só entendia o vender mel em frascos da tofina nas feiras, de preferência aparecessem já cheios, sem a lagariça que ele promovia, centrifugando as poucas alças na casa de telha vã, por entre um enxame de abelhas voando e caindo, nos baldes do mel donde ia depois catá-las, afogadas . Era uma apicultura de precária rapina para a qual me convidava a dar assessoria, enquanto ele, à vista da primeira abelha, logo se refugiava no moinho donde aparecia o nariz à porta, insistente a perguntar, fosse verão ou inverno:
- Têm méli?
Passaram os anos sem lá ir, nesse tempo sonhei várias vezes que já nem moleiro, nem lavradora, nem moinho, gémeos bestiais, ou sobreiros, nem sequer alemoas boas. Pesadelos.
Quando fui, encontrei apenas uma vivenda com vista para o mar e um muro bem alto.
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