Saturday, November 17, 2012

Se é para ser bom, eu sou bom, e se for para ser mau, eu serei mau.
Nunca levei para casa nada por dizer, a vida foi-me madrasta, desde gaiato, descalço a trabalhar num telheiro. Com o primeiro soldo comprei as minhas primeiras botas e agasalhei os pés à primeira vez na vida.
Arranquei árvores, a ganhar à peça, mais o meu irmão, levávamos um dia inteiro de picaretas e pás, para arrancar um eucalipto dos grandes, passámos meses longe de casa em terras distantes a arrancar arvoredo, estivémos na Arrábida a fazer carvão, em alcoentre a arrancar eucaliptos, corremos o alentejo a limpar charneca para outros semearem o trigo. Nunca ninguém me pisou, que eu não deixei.
O Júlio era velhaco, queria o mundo só para ele, e comigo nunca se deu bem, que eu depressa o sacudi da minha volta. Um dia o rapaz dele brincava com o meu, gaiatos, já se sabe, brincando com uma flóber, pregou um tiro na perna do meu. Cuidas que o Julio, pai como eu, me veio perguntar q...
uanto foi a despesa no hospital? Nada, até hoje.Pareceu-me mal, nunca mais nos falámos, nem truz nem buz. Ele passáva ali na motorisada a caminho do trabalho, à curva, junto ao meu portão, e não é que buzinava? Filho dum cão, eu andava roídinho de raiva dele, a passar ali, a fazer pouco de mim, buzinava o cabrão. Um dia, ventoso, andava eu enraivado com o tempo de um real filha da puta, limpando oliveiras com o machado, lá vem ele com a buzina, ao meu portão. Foi uma névoa diante da vista, joguei-lhe o machado, que lhe passou a razar o capacete, desiquilibrou-se da motorisada mas lá conseguiu jogar os pés ao chão, firmar-se na lambreta, e ala.
Nunca mais lá passou, teve que passar a tomar o caminho da Garraia, mais longe da cidade e do gume do meu machado, nunca mais se atreveu a passar ali, a fazer pouco com a buzina. A mim cabrão nenhum me pisa, sei ser mau como sei ser bom.

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