Tuesday, November 27, 2012

Estou aqui sentado a ver a esteva crescer.
Acordo e nem sei por onde pegar no dia, acabádo de chegar da França, desta vez com uma mão à frente e outra atrás, voltei com o mesmo dinheiro que tinha quando fui um ano mais prá pera.
Começei aos quinze anos. Fui mais uns camaradas apanhar pêra a ganhar à caixa. Não havia por aqui melhor do que eu que sou um touro de briga, trabalhava enquanto houvesse ...
luz do dia, depressa enchia os bolsos de dinheiro. Aos quinze anos ainda o buço estava enralado e já eu ganhava e estafava fortunas em mulheres:
brancas, pretas ou azuis, aos dezoito anos já tinha dado a volta ao mundo em madames e demoiselles. Agora estou outro, bem entendido, tenho uma miuda e não sou desses. Do que eu gostava era de caça e de andar atrás de ovelhas, mas falta-me ter fazenda para isso.
Agora estou nos vintes e voltei à França, mas não correu como de costume, o patrão dizia que a fruta não se vende como vendia, não tinhamos ordem de colher, passámos os dias à mingua de ganho, a trabalhar uns dias por outros, até me fartar de estar ali à disposição do freguês.
Voltei e encontrei aqui tudo na mesma, a minha vida na aldeia é estar aqui sentado à espera. Mas que ei-de fazer? É aqui que eu gosto de viver, não gosto de mais lado nenhum.
Aqui sentado a ver a esteva crescer e a ter pouca vontade de me levantar.

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