Tuesday, June 27, 2006

Pontapés nas nalgas, já!

Este mundo anda cheio de sujeitos que, desde que se levantam pela manhã, até que se deitam pela noite, mais não fazem do que cismar na melhor forma de tramar os outros.
Publica hoje o DN, uma entrevista com o mandante do Banco Central Europeu, um poder mangas de alpaca, que nos governa sem ter sido eleito.
Sentencia ele, que Portugal e outros países europeus, têm que reduzir os custos do trabalho, baixar salários. A primeira medida de higiene pública é pôr este inteligente a ganhar o ordenado médio português, e sujeitá-lo a despedimento, através de quem de direito, os povos europeus através do voto. E já agora, fartura de pontapés nas nalgas também não seria demais.

Sunday, June 25, 2006

São joão rústico

É um homem pequenino, daqueles velhacos ou bailarinos. Passa os dias com o gado há já sessenta anos, cheira habitualmente malzinho, mas hoje está bem arranjado e perfumado- será dia de pagamento?
Não. Hoje, nesse dia , era véspera de São João, dia de fazer o mastro e "bailhar" o santo. Ele aí vinha, com um enorme ramo de mentrasto, uma espécie de hortelã brava, única essência do estio. Diz que não serve para nada, não dá resultado algum a não ser trabalho, mas cheira bem, perfuma as casas, o terreiro do "balho". O São João singelo.

Friday, June 16, 2006

Umas calças

Para os que se acham alheios à política, informo que, comprei umas calças por sete euros, giras, parecem duráveis, e ainda assim, acho que foi uma má compra.
Dir-me-ão, o que tem o traseiro- da política- a ver com as calças ?
E eu direi que tem tudo, que há muita política num par de calças, como o há num frasco de mel ou num qualquer suspiro de vida. Quanta exploração não foi necessária, quanta vida desperdiçada, desvalorizada, para eu comprar umas calças por sete euros?
Poupei numas calças e a minha ilusória poupança, saiu cara para a industria têxtil europeia , que por aqui ainda se mantem, com os seus empregos cada vez mais periclitantes. Também a mim, esta poupança sairá ainda cara, enquanto cidadão de um mundo, aonde os apoios sociais impõem um modelo de vida decente e ainda há alguma regulação das relações do trabalho.

Wednesday, June 14, 2006

Raios e trovões

Haverá já uns anitos que não via uma noite assim em pleno Junho. Do breu se fez dia , com os raios vindos de todas as bandas do céu. O dilúvio caiu sobre a terra quente, ainda a fumegar do sol da tarde e tanto choveu, até se apaziguarem os génios da natureza. De manhã, restava a névoa carregada do aroma resinoso das estevas e o silencio acabrunhado dos galos nas capoeiras, pingando.

Tuesday, June 13, 2006

Morrer na praia

Hoje o dia promete chuva, que venha.
Não está dia de praia, talvez por isso, recordo a sexta feira da semana passada.
Entre a vozearia desatada do campeonato do mundo de futebol, desproporcionada perante a realidade real deste mundo, uma notícia se me atravessou no caminho. Uma família palestina foi à praia em Gaza, gozar a serenidade do mar, até ao instante em que os bombardeamentos israelitas também resolveram ir à praia e acabar com o dia daquela familia. Não consta que fossem terroristas, mas sim vítimas de um terrorismo.

Entretanto o mundo lá estava na sua vida. Uns não ouviram, estavam no circo do futebol. Outros não viram, estavam na briga quotidiana da sobrevivencia, por uma qualquer migalha de vida.

Sunday, June 11, 2006

O Verão a chegar


Da memorável Primavera, restam agora os cardos das alcachofras bravas. Quem disse que o Verão do Alentejo é monótono?

O dia de Camões

Na escola primária salazarenta que eu ainda recebi na infância, era-nos ensinado, que o dia 10 de Junho, era o dia de Camões e da raça. Nunca entendi bem o que isto queria dizer, mas também nunca me soou bem , foi-me soando cada vez pior, à medida que crescia e entendia que era essa uma forma de dizer, que isto, esta terra, é" nossa" e não dos "outros". Veio a democracia e acabou-se, em boa hora, com esta menção bacoca. Com o 25 de Abril, o termo raça desapareceu da infância.
Nos dias que correm, grupelhos fascistas tentam apropriar-se do dia de Camões, e impingir o seu imaginário salazarista, manifestam-se, e gritam impropérios á inteligência dos homens e mulheres deste país. Se não fossem ignorantes, se não germinassem na estupidez mais alarve que esta terra produziu, saberiam que Camões nunca poderia estar na companhia deles. Camões era um principe da poesia, um homem do mundo do seu tempo , e com mundo. Sabiam que era um multiculturalista, que até na morte, teve um Jau consigo, que até não era branco.
O dia de Camões é pois, um bom dia para celebrar o encontro dos povos, a diferênça de todos, a humanidade que habita na poesia.

A iluminada luminária

Foi notícia de pasmo, a vinda de um tal Jack Walch, um americano de sucesso nas artes da gestão, proferir sentenças àcerca das matérias em que se sente sabedor. E vai daí perorou ácerca do nosso atraso e da vergonha que deveriamos ter, do nosso declínio aos olhos dos outros povos. Tão espantoso como a pesporrencia do sujeito , foi a reacção complacente de muitos colunistas da direita bem pensante, americanistas tão primários, como o são os anti. Não houve por lá ninguém, a questionar o sujeito se, vergonha por vergonha, não a terá , daquilo que o mundo pensa do seu país, da forma como o seu presidente mentiu ao mundo, ácerca das armas de destruição maciça no Iraque, se não sente vergonha daquela imensa democracia que elegeu uma espécie de primata, presidente com menos votos do que o adversário, de um país com índices de exclusão e desprotecção social, dignos do terceiro mundo. Não terá também vergonha do campo de Guantanamo e dos adolescentes condenados á morte, nalguns estados americanos?
Como dizem os alentejanos:
Já viram o que faz a falta de "tacto"?

Tuesday, June 06, 2006

Saudosismos

Estranho destino o nosso. Eu que tanto desdenhei os governos do saudoso Guterres, constato que a partir desses bons tempos, cada novo governo que aparece, chega quase a inspirar-nos saudades do anterior. Triste destino, enfim.

Sunday, June 04, 2006

Os tapetes saíram á rua



Estivemos em Arraiolos, com os tapetes saídos à rua. Era noite, havia muita gente festiva e os fados do Duarte, filho da terra, na praça maior de Arraiolos. Um serão perfeito e trouxe comigo no ouvido, aquele delicioso fado, concluído assim, com emoção e arrebatamento:

Eu tenho um sonho doirado
um sonho que a minha alma quer
eu ei-de morrer cantando o fado
nos braços de uma mulher.

Saturday, June 03, 2006

Só faltava essa

Ideia peregrina, essa de incluir os pais na avaliação dos professores. Tão insólita que é impensável que vá avante. Era só o que faltava, para demolir de uma vez só o sistema de ensino em Portugal. E os pais, quem os avalia?

Friday, June 02, 2006

Dias de trigo


Dias de Verão, dias de trigo.
Nos campos do Alentejo, começou o trabalho da ceifa.

O céu é azul como só aqui, o calor intenso, neste começo de Junho, os homens começam cedo a colheita do pão.
Venho da cresta com as alças do mel. Eu colho o mel, eles colhem o trigo, sob o sol inclemente.
Estou sequioso por uma bilha de barro com água fresca.