Wednesday, August 20, 2008

Uma tarde de férias

No fim da tarde vou-me puffesticar nas dunas. Com uma cerveja ou uma caipirinha sonhadora. Os capitães da areia rebolam-se pela praia, mais os restantes pirunitos dos chapéus de sol imediatos.
Já houve sessão matinal de procurar cadelinhas nos baixios da vazante, são bichos diversos como os humanos, que apetece apanhar por apanhar e soltá-los de seguida, para amanhã voltar a marcar encontro com o gesto recolector.
O Zé tem vocação para a pesca e para escarafunchar nos mistérios da natureza, sejam uma alforreca, as estrelas do mar ou a cadencia incerta das marés. O Simão muitas vezes a leste, à espera que não o agridam com solicitações ou desvios ao seu caminho introspectivo.
Eu frequento o desgastante papel de administrador judicial das querelas de irmãos, umas vezes com mais, outras com menos talento e paciência.
Agora, caipirinha!

Friday, August 15, 2008

Mãos


Gosto bem de saber as mãos, de saber de mãos, da sua hipotética apresentação das almas que nelas habitam. Gosto destas, tuas, nossas, em abandonada distracção na toalha da praia.

Os frascos de mel

Como se fazem os frascos de mel, perguntas tu Simão Bravo. Digo eu, que se vai tirá-lo às abelhas, que não o fazem para nós o comermos.
- E elas deixam?
- Nem por isso, elas ficam zangadas e picam muito.
- Mostra!
E eu mostro as mazelas, aumentadas para ilustrar a vida.
- Não tens medo?
- Não.
- Ainda bem!

Monday, August 11, 2008

Os meus cem metros favoritos

Rolo a caminho de Lisboa por entre as árvores, pelo enevoado da manhã. É difícil boicotar o mundo com tanta informação, tantas noticias de apoteose olímpica. Gostava de ser mágico e ter feito chover em exclusivo, na moleirinha daquelas grandes personagens, uma tromba de água no KGB Putin, no simiesco Bush, no seu colega chinês, todos encharcados em vergonha , em trampa, se não fosse pedir demasiado. Tinha decidido boicotar unilateralmente os jogos olímpicos, mas Francis Obikwelu a correr hirto, e com a elegância de uma gazela, vale bem uns jogos olímpicos.

Friday, August 08, 2008

Uma viagem

Era mau dia para viagens, mas assim calhou ir buscar-te à da tua avó materna.
Ia eu pelo caminho resmoendo raivas, a rosnar o troco a dar áquele senhor, que por acidente é teu avõ, enquanto tu olhavas os pinhais, as florestas da beira Tejo, entre Abrantes e o Fratel. Fui salvo pelos óculos escuros que me esconderam os olhos.
Foste tu a puxar a conversa como por cordel, e em breve, no meu camião de carregador de mel, entravam os cem dias de Napoleão, o bisavô Bravo há cem anos nos sertões africanos, as aventuras coloniais de Serpa Pinto e do Doutor Livingston, os holocaustos do ultimo século, a ruim natureza do bicho homem, a tuberculose que levou cedo o genial tio Justino de Campos.
E porque se morre, perguntas tu. Talvez para colhermos o perfume dos dias de vida, para fazermos alguma coisa com este tempo de excepção, para nos embebedar-mos de emoções boas, semear futuro nos que amamos, sei lá, pouco sei dessa hora e das que se lhe seguem, que desconfio bem serem nenhumas
Quando eu morrer quero ser um gato, acrescentas. E vais contente.

Saturday, August 02, 2008

águas revoltas

Hoje as minhas águas santas eram revoltas, na praia do Meco, impraticaveis para banhos descontraidos. Foram as nossas águas de encontro. Tornou-se praia de esplanada, ameijoas, imperiais e olhos penetrantes. E mais uma vez o talento misterioso de fazer correr o tempo.

Friday, August 01, 2008

Águas santas

Ele há sítios para onde ninguem vai. Aliás, quase ninguem.
Há uns ermos no alentejo, no quase deserto, aonde há água no verão. As águas santas são umas quase termas, não como Caldelas ou o Vidago, não são chiques, não têm relvados, piscinas ou árvores frondosas. Algum moçárabe ancestral descobriu nelas uma qualquer virtude paliativa ao reumático, um qualquer conforto para a pele e assim se iniciou a peregrinação a estes santuários improváveis.
Aqui por Mértola existem três, a de Besteiros, a da Morena e a mais incrivel, a Água Santa da herdade. É preciso fazer uns quilometros bons por estrada de terra, comendo o pó dos caminhos, até chegar a um sítio áspero, sem sombras, num barranco indigno de se chamar ribeira, entre loendros e estevais. Lá se encontram uns casebres de taipa, talvez umas mesas de pedra ou de pau carunchoso, e é tudo, para além de perdizes e lebres curiosas. A este lugar incógnito entre Mértola e Almodôvar, que parece nem no mapa dele constar nada ,aflui uma escassa romaria de gente em busca de uns banhos fornecidos a cântaros,dormidas improvisadas nos casinhotos, ou no relento ao agasalho das mantas, umas paródias com "mines" e jogo da bisca lambida.
Este sábado iniciam a época balnear da Água santa com acordeonistas e tocadores de baldão. Estou sempre curioso para meter o nariz neste Portugal que não é o das auto-estradas, da vida alucinante de rapidez, nem das esplanadas da praia. Este país da água santa, não é o mesmo do outro, que todos vemos desfilar a cem à hora. É outro país e não se mistura.