Sunday, February 26, 2006

Vento

O vento estraga-me o humor. E também em casa existem correntes de ar.

Friday, February 24, 2006

A contabilidade a funcionar

Por vezes, o governo parece à beira de fazer algo de bom.
As aulas de substituição são uma boa ideia, mas precisavam de suficiente investimento em professores, capazes de substituir quem falta, e que não queimem tempo, fazendo umas mómices que ninguém, muito menos os alunos, leva a sério, só para entreter.
O complemento solidário de reforma, ou lá como se chama, para os idosos carenciados, seria uma boa medida se, e sempre o se, não eliminasse aqueles idosos necessitados por não terem filhos, quem sabe até abastados, que deles se ocupem e com eles se preocupem. Sabemos que há idosos, não poucos, abandonados nos hospitais até que a morte lhes alivie as penas. Esses, não podem contar com os filhos, nem com o estado. Nem é de esperar que esses pais sigam o "conselho" do legislador, e accionem judicialmente os filhos por abandono. Aquilo que seria uma boa medida, torna-se aqui muito inconsistente. Será que não pensaram nesta realidade? Ou é apenas a contabilidade a funcionar?

Wednesday, February 22, 2006

O pinhal alentejano


A floresta pode não ser uma virtude e os terrenos ditos incultos podem ser uma riqueza não negligenciável. Certo é que escrevo em proveito próprio, mas o interesse colectivo é feito de muitos interesses individuais. Senão vejamos: no interior do Alentejo e do Algarve, em Mértola e Alcoutim, o estado tem enterrado fortunas, a subsidiar a plantação de pinhais mansos, em solos esqueléticos, num clima sequíssimo. Naquela aridez , está a nascer o pinhal do interior alentejano. Não produz um pinhão que seja, não produz madeira que preste, apenas lenha reles e caruma boa para semear inçêndios no estio alentejano. Para isso sacrificaram-se os matagais, aonde se produzia o mel de rosmaninho, sem favor um dos melhores do mundo. Mel esse que tem uma Denominação de Origem Protegida, agora desprotegida pela falta de pastagem para se produzir esse mel de rara qualidade. Os matos produzem ainda lenha, essências, ervas aromáticas e medicinais, e sustentam uma economia de recolecção, também agonisante, dos cogumelos, dos espargos bravos, das túberas, da aguardente de medronho, dos frutos silvestres. É ainda o mato compatível com a caça e o pastoreio extensivo.
É tudo isto que se perde, a troco de coisa nenhuma, mas todavia, subsidiada.
Ainda é tempo de reparar o que se estragou. Se houve dinheiro e muito, para este acidente, é preciso que o haja para reimplantar matos de qualidade, onde os houve e deixou de haver; plantar alecrim, rosmaninho, medronheiro. Ordenar a desmatação, estabelecer regras que compatibilizem os vários interesses presentes. Cuidar de tornar compatível a presença do mato com a prevenção dos inçêndios, o que até não é difícil, afinal, é menos combustível o mato que o pinhal.

O que eles têm

Quando vou a Espanha comprar o timol que preciso para fazer o tratamento ecológico das minhas colmeias, tudo é fácil. Saio de Portugal um único quilómetro e há uma bomba de gasolina que vende tudo quanto se possa imaginar. Até timol. E barato.
Aqui tudo é dificil. Hoje fui a Lisboa e a maior empresa de produtos químicos e farmacêuticos portuguesa, não tem stock de timol, não garante uma entrega rápida e pede o triplo do preço do espanhol da bomba de gasolina. Portanto, o pequeno comerciante espanhol vende, enquanto a nossa grande empresa continua distraída. Quando hoje pretendi saber, na dita nossa grande empresa o preço de uma balança de precisão, das que se usam laboratorialmente, eles arregalaram os olhos como se eu tivesse dito uma coisa patusca e, claro, não vendem. Não fazia sentido. Certamente que o nosso amigo espanhol se esfarraparia para me arranjar a balança e com isso ganhar mais uns euros, que nunca são demais. Por aqui começa o sucesso de um país ou o seu insucesso. O que é que eles têm que nós não temos? Eu sei.

Tuesday, February 21, 2006

Ares da serra

Hoje voltei a cheirar os ares da serra, no norte alentejano. Vi aquela conjugação rara dos castanheiros e das oliveiras, os verdes pinhos, o odor florestal de húmus e folhas caídas. Ao longe, branquejava de neve a Estrela. O repasto de almoço correu desta vez bem. Fomos a Castelo de Vide, ao "Alentejano", e lá eles sabem o que fazem.

Monday, February 20, 2006

Corte da Velha


Na encosta da Serra de São Barão, está a aldeia da Corte da Velha. Para além da vantagem para o meu trabalho desta proximidade aos matos de Mértola e Alcoutim, tenho com esta aldeia uma inexplicável relação afectiva. Será a imponência da serra, mirante do alentejo até às serranias algarvias? O badalar dos rebanhos pastando nas colinas? O perfume enresinado das estevas? As galinhas e ovelhas pastando pelas ruas? Os estorninhos que me acordam todas as manhãs? Que feitiço é este?

Sunday, February 19, 2006

Os senhores administradores

Foram generosos os administradores do Infarmed, em proveito próprio.
Souberam aumentar bem os seus vencimentos, em prol das famílias, certamente já carenciadas.
Afinal, os medicamentos estão muito caros, acrescenta a doula Luísa.

O amigo

Os meus amigos encontro-os sempre, onde quer que andem, mesmo na blogosfera. Ou sigo-os à distancia, nas palavras, na respiração de vida que trazem. Afinal, respiramos o mesmo ar.
respiraromesmoar.blogspot.com

Coisas simples

O gozo de por cá andar vive, por vezes, de coisas simples. Estar entre amigos, diante de um bom lume de chão, assando e debicando umas boas farinheiras, na companhia do fiel tinto, com o chinfrim dos meninos em fundo. E as palavras surgem apetitosas como cerejas.

Saturday, February 18, 2006

Amarelo no pinhal


Por vezes os absurdos pinhais do alentejo, conseguem ser uns postais engraçados. Fruto de um ano pródigo em chuvas, todas as semanas tem chovido alguma coisa, as colinas de Mértola cobrem-se de flores amarelas, crisandas, por entre as linhas dos pinheiros.
Durante uns segundos chego a ficar embevecido. Mas isto passa.

O stress do apicultor quando chateado

Vida de apicultor é povoada de stress. Ao contário do que possa parecer, não estou imune aos sintomas dessa "doença". Manifesta-se quando me aparece um guardador de rebanhos, a pretender que eu levante um apiário de colmeias pesadíssimas, para lá das minhas capacidades físicas, para que seja possível lavrar o mato sem que as abelhas se filem no tractorista, e depressa, que a máquina já lá anda. Fora de questão fazê-lo. Mas usando de habilidades argumentativas e , com o bom senso do meu lado, lá fui falar com o tractorista, andava ele lá pelas encostas com um tractor de lagartas. Emprestei-lhe material de protecção, máscara e luvas, deixei-o fornecido de bons conselhos, lavrar perto das colmeias na manhã de um dia frio, não ser valente e pretender não usar as protecções,etc, e tudo se esclareceu, a complicação tornou-se uma simplificação simples.Mas até perceber que o podia ser, foi um pequeno mau quarto de hora, gerador de dores de barriga.

Friday, February 17, 2006

Estado mínimo

Hoje a ministra da educação, anunciando a decisão de fechar a maior parte das escolas do primeiro ciclo, milhares delas, por todo o interior de Portugal, falou verdade, verdadinha, dizendo que " os distritos de Bragança, Guarda, Vila Real e Viseu, serão os mais afectados pela medida".
Os mais afectados. Ou a ministra não sabe português, e o peso que as palavras contêem, ou então, falou verdade.
Era a decisão que faltava para acabar com as aldeias do interior, longe de tudo, ainda mais longe da escola. Duvido do benefício pedagógico de deslocar crianças, algumas de cinco e seis anos, para longe de casa. Em termos de desenvolvimento local, parece-me fatal. As aldeias de Portugal , serão a partir de agora, ainda menos apelativas para os casais jovens que querem ter filhos.
Só vejo o que se nega, a vontade de o estado poupar com alunos tão dispendiosos, por serem escassos. É o estado mínimo na educação, como na saúde, como em todo o lado. É este o estado a que chegou a nossa demissão. E a demissão de esquerda deste governo esquisito.

Ansiedades de apicultor


Está promissora a chegada da Primavera mas anuncia-se o frio e os seus perigos. Temores de quem sabe que fácilmente as coisas correm mal.

Wednesday, February 15, 2006

Pedro e o lobo

Pior é sempre possível. Depois das caricaturas de mau gosto, chegam os ofendidos de Maomé aos píncaros na mesma matéria. O embaixador do Irão resolveu abrir o livro sobre o holocausto, e demonstrar licenciatura em genocídios. Para isso, vai daí teorizar sobre o tempo necessário para incinerar seis milhões de pessoas. Digno de um profissional.
Esteve bem hoje o ministro Freitas do Amaral, ao chamar o cavalheiro para ouvir umas coisas. O episódio demonstra que temos um problema sério, e que o presidente Bush desbaratou em vão, a pouca credibilidade que pudesse ter, com a inútil guerra de má fé no Iraque. E muita falta faria essa credibilidade agora, com assuntos sérios como este, pois, custe o que custar, com mais bombas ou menos bombas, o mundo não pode permitir que o Irão, governado por gente desta, possa um dia ter a bomba atómica. Bush e Blair, brincaram com coisas sérias, como Pedro e o lobo, já ninguém os leva a sério. E agora era preciso.

Sunday, February 12, 2006

Timol


Desde que há vinte anos surgiu em Portugal a varroose, um ácaro que parasita as abelhas e destrói os enxames em poucos meses, tudo quanto é colmeia, tem que ser tratado com acaricidas todos os anos. Os apicultores biológicos, nos quais me incluo, desenvolveram tratamentos com produtos de rápida degradação, de modo a evitar os resíduos no mel, tais como ácidos orgânicos, presentes naturalmente no mel( ácido fórmico, ácido oxálico) , e essencias tais como timol e mentol.
Esta semana recomeçei a eterna guerra com o ácaro, impossivel de erradicar, mas que forçosamente se tem que controlar. Estou a usar um produto italiano, com mentol, timol, eucaliptol e cânfora, de óptima inalação, uma autêntica excursão olfactiva, que funciona e é garantia de não estragar nada no trabalho que as abelhas fazem com a natureza.

Friday, February 10, 2006

As amendoeiras de Mértola


Hoje esteve um dia de Primavera. Pingou durante a noite e amanheçeu morno. As colmeias despertaram cedo e o gado logo buscou as amendoeiras. Um dia criador da natureza.

Thursday, February 09, 2006

Os comeres do lagar


Estávamos nós na sagrada hora de almoço em Valencia de Alcântara. Vamos almoçar a Portugal, eis a minha original proposta, a Marvão que é bonito, mais perto do céu e com uma semana gastronómica , de nome "Comeres do lagar". Prometia, portanto. Mas não. A comezaina não chegou à bitola medíocre e, em vez do azeitinho do lagar da região que eu esperava encontrar, lá estava uma garrafinha de azeite gallo. A isto se chama ir ao engano. Coisas do marketing mal feito.

Wednesday, February 08, 2006

O editorial

Não mudaria uma vírgula que fosse ao editorial de Nuno Pacheco, no Público. Cito-o:
"Quando se deu o 11 de Setembro, horrível para todos, levantaram-se no ocidente milhões de vozes para dizer que os muçulmanos não deviam ser castigados ou perseguidos pelo acto hediondo de um grupo de fanáticos. Agora, por uns simples cartoons satíricos, os dinamarqueses são perseguidos por toda a parte, inclusive no seu proprio país, sem que no mundo árabe alguma voz se levante contra tamanha injustiça e com a Europa( Portugal incluído, para nossa vergonha) a pedir desculpas por crimes que decididamente não cometeu."

Eva passou por aqui

As famosas caricaturas do profeta, àcerca das quais todo o bicho careta tem que opinar, são um assunto espinhoso para o mundo todo. E são-no, porque aqui a racionalidade tem dificuldades de admissão.
Para mim é dificil, até porque, enquanto agnóstico, tenho pouca sensibilidade para compreender os crentes. Mas, discordando de Ana Gomes no blogue Causa Nossa, acho que tambem se coloca a questão da liberdade de expressão, pois vários governos árabes reclamaram o castigo dos autores da prevaricação. Os ocidentais brincam com tudo- os simbolos da religião cristã têem sido amplamente parodiados e daí nunca veio mal ao mundo- e a isso chamam liberdade. Os islâmicos desconhecem o sentido de tal palavra e reagem conformemente. Eles riem de coisas diferentes. O absurdo da história é que aqueles desenhos -alguns de mau gosto e talvez intencionalmente malévolos- nunca teriam tido a difusão que tiveram, e não mereciam ter, sem a publicitação que toda esta contestação lhes deu. Daqui avulta que há dois mundos que não se podem compreender nunca.
Entretanto, vastos sectores da esquerda europeia , fustigam-se e flagelam-nos com uma perspectiva de auto culpabilização do Ocidente, como se aqui radicassem os males do mundo, e isso sim, para mim é obsceno. Talvez fossem por aqui os jardins do Éden, por onde Eva se passeava.

Tuesday, February 07, 2006

Resmorder de dentes

Enquanto o Belmiro joga o monopólio, eu debico migalhas de mel pelos campos do Alentejo.
Gente como eu não tem defesa possível. Os bancos apresentam lucros indecentes, cada vez maiores e mais eficientes, na usura. As petrolíferas têem a benção do chamado "mercado" para nos comer vivos. Sócrates, Barrosos , Cavacos e quejandos, enchem a boca com competitividades e económicas asneiras. Mas nós roemos os ossos, rangemos os dentes.
Arre que não há maneira de se proibir os economistas de mandar no mundo.

Monday, February 06, 2006

Despedidas de inverno

As rãs coaxam nos charcos. Um sinal certo e seguro das despedidas de inverno.

Saturday, February 04, 2006

António Gancho


Soube-o à dias, mas muito fora do tempo.
Morreu há já umas semanas atrás, tão incógnito quanto viveu, tão só quanto sempre o foi, sem nenhuma nota de rodapé de jornal. Mas parece que morreu a rir.
Resumindo, chamava-se António Gancho, nascido em Évora há sessenta e cinco anos, passou a maior parte da vida internado em hospitais psiquiátricos e foi um dos maiores poetas do século passado em Portugal.
Escrevia coisas assim:

Tu és mortal

Tu és mortal meu filho
isto que um dia a morte te virá buscar
e tu não mais serás que um grão de milho
para a morte debicar

Tu és mortal anjo
tu és mortal meu amor
isto que um dia a morte virá de banjo
insinuar-se-te senhor

É-se mortal meu deus
tu és mortal meu deus
isto que um dia a morte há-de descer
ao comprimento dos céus


António Gancho

Friday, February 03, 2006

O dia da experiência


Ontem foi a senhora das Candeias, hoje o dia da " experiência" das colmeias.
Em Mértola, onde a apicultura, como outras actividades recolectivas, tem uma tradição viva na vida das pessoas, o dia de hoje é o dia da "experiência", quer dizer, o dia da primeira visita pós - invernal, que pretende ser um augurio do ano que aí vem. Esperemos que não o seja porque foi fraca experiência. Após uma noite de chuva, corriam os barrancos pela manhã, o dia esteve intermitente entre aguaceiros e um sol tímido, pouco propício às abelhas que acharam não estar a jornada para folestrias.