Thursday, November 19, 2009

Tráfico de influencias

Há uns bons trinta anos eu não tinha rugas na cara e era testemunha de um tráfico inusitado de influencias.
Era corrente tocarem à campainha vizinhos desconhecidos, ou não, chegados ao engodo da aura de poder, que era conferida pelo carro do estado, e respectivo motorista às ordens todas as manhãs, para pedinchar os mais variados favores. O meu pai a todos ouvia atento, um emprego para um filho, um lugar no lar para uma sogra com alzheimmer, enfim, qualquer atenção do estado.
Ele tinha a fraqueza de não dizer não, ou tão só o desejo de fazer bem ao seu próximo, a eito, sem destinção. Logo se agarrava à agenda, e telefonava para este ou aquele, à procura de fineza para quem ele nem sabia quem era, ou se era de tal merecedor.
Cresci no respeito por este elementar tráfico de influencias, talvez uma ética republicana de servir sem olhar a quem, ou uma pequena corruptela do poder possivel, de proximidade. Mas cresci nessa disponibilidade para os outros, assim ensinado pelo mais íntegro dos homens de poder que conheci.

Thursday, November 05, 2009

Em espera

Gosto de ir ao terraço espreitar a tua chegada.
Vejo passar os carros ao longe, perto do horizonte, muitos, até apareceres lá das lonjuras.
Vens a um quilómetro e já te vejo entrar no ramal que leva à aldeia, lugar aonde se tem que vir a propósito. Vamos sentir o perfume do mato molhado, da lenha nas chaminés. E eu estou quase a ser feliz.

Sunday, November 01, 2009

Perfume da terra de Anelhe

Aqui tem perfume de framboesas e de terra negra e funda a visitarem-me a pele.
Fui feliz a comer amoras no valado, nessa noite de insónia e aventuras em que fui principe da criação do mundo. Esse dia do começo dos tempos, é a minha marca do amor. Esse tempo volta, sempre que encosto a cara no teu peito, que te respiro em beijos e fecho os olhos .